domingo, 17 de outubro de 2010

Haikai Narcísico



O mito de Narciso nasceu na mitologia greco-romana, tendo atravessado os séculos e influenciado sobremaneira a cultura ocidental. Conta a história que Eco, uma bela jovem apaixonada por Narciso, definhou até a morte por não ter seu amor correspondido. A deusa Nêmesis, então, condenou Narciso a se apaixonar por seu próprio reflexo na água, levando-o ao mesmo destino de sua pretendente. Muitos anos mais tarde, em 1914, Freud acabou se inspirando na história para lançar seu modelo psicanalítico: o narcisismo. Ele acabou concluindo que não é bem com os olhos que o Narciso em nosso interior enxerga o próprio reflexo...


segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Mensagens das urnas...


A primeira etapa da grande "festa" democrática terminou e o resultado, surpreendente ou não, pode revelar muito sobre o pensamento atual dos eleitores brasileiros. Há que se tomar um certo cuidado com análise, entretanto, uma vez que, visível apenas de uma ótica estatística, nada, ou muito pouco, tem a dizer sobre pensamentos individuais ou de minorias. Por outro lado, sem se adotar uma perspectiva distante, jamais seria possível vislumbrar, no conjunto, as inclinações ideológicas que orientam toda a nação. A extrema relevância deste ponto de vista se justifica pelo fato de, na vida em sociedade, todo poder emanar das maiorias. E como suas opções visam atender, justamente, a maioria desses interesses, pode-se dizer que, tecnicamente, sempre estarão com a razão.

Um excelente exemplo a ser analisado é o do estado de São Paulo, onde não haverá segundo turno nestas eleições. Pode-se afirmar, de forma pragmática, que a maioria absoluta dos eleitores acreditam que a situação em que o estado se encontra, já há décadas, está adequada e atende às necessidades de sua população. Mais da metade dos eleitores escolheram manter os rumos das políticas públicas atuais, utilizadas pelo estado mais rico da federação para solucionar questões como o baixo nível da educação pública paulista, o aguçamento das desigualdades sociais no estado, a banalização da violência urbana, a degradação do meio ambiente, a dificuldade no acesso da população mais carente a serviços públicos essenciais, etc. Não há muito o que se discutir, o resultado é suficientemente sucinto e claro: a maioria dos eleitores acha que nada deve mudar na política estadual nos próximos quatro anos.

Já no cenário nacional, parece que não foi bem esse o consenso. A mensagem implícita no resultado da votação foi tão clara quanto a outra: mais da metade dos eleitores não deseja que as políticas públicas federais continuem, exatamente, da mesma forma. A ampla maioria dos eleitores entendem que, a despeito das inúmeras conquistas sociais e do desenvolvimento econômico singular do Brasil, não há mais como tolerar o descaso com o meio-ambiente, a canalização de dinheiro público para o setor privado por meio do pagamento de juros abusivos, a negociação de posições em troca do apoio de partidos e políticos oportunistas, etc. A diferença da esfera estadual é que, no segundo turno, a escolha se polarizará e os eleitores se verão na difícil tarefa de escolher, não entre dois candidatos, mas entre duas propostas distintas de governo. Como os partidos de ambos os candidatos já exerceram as mesmas funções no Poder Executivo, pode-se ter, pelo menos, uma noção prévia do desempenho de cada um.

E em 31/10/2010, dia do segundo turno das eleições, caberá novamente à maioria decidir se prefere que o país siga na direção em que está ou retorne àquela adotada há oito anos atrás.