sábado, 12 de fevereiro de 2011

A paradoxalidade humana


Pessoas são paradoxais. Para quem não sabe, paradoxal é algo que não parece ter um sentido lógico ou é, à primeira vista, contraditório. Essa paradoxalidade acaba se manifestando no comportamento humano nas mais variadas formas. Um caso típico é quando uma pessoa age de uma forma diversa daquela que diz, quer ou pensa que deveria agir. Quem não tem, por exemplo, um conhecido que, preocupado em preservar a saúde, ingere exclusivamente alimentos orgânicos, mas fuma? Ou que, visando a boa forma física, troca o açúcar do cafezinho pelo adoçante, após um lauto jantar em um rodízio de pizzas? Ou que trabalha em uma função que não suporta, ou que se divorcia por medo de se separar do cônjuge, ou que professa uma religião na qual não crê, ou que se gradua em uma área que já se decidiu por não seguir, enfim, há uma lista tão ordinária quanto extensa de situações humanas que permitem dispensar quaisquer referências científico-acadêmicas para embasar a afirmação feita no início do texto.

Ainda nesse campo das "informalidades científicas", pode-se dizer que há duas características nos paradoxos humanos que costumam deixá-los ainda mais intrigantes. A primeira, intrínseca à própria concepção do termo, é que não existe, necessariamente, contradições ou falta de lógica nesses comportamentos. Há, sim, uma certa "intencionalidade" que procura conduzir os mais incautos — inclusive o próprio autor do paradoxo — a equívocos de raciocínio que levam a uma falência lógica da conclusão. Em outras palavras, a situação proposta esconde, ou omite, propositalmente, informações essenciais para que se possa chegar a uma conclusão logicamente adequada. Não por acaso, a teoria sobre o inconsciente, proposta por Freud, há quase dois séculos atrás, ainda é inspiração para inúmeros estudos até os dias de hoje.

Já a segunda característica, mais complexa, reside no âmago da natureza humana e se refere à forma como tais comportamentos são notados pelas pessoas. A paradoxalidade costuma ser mais facilmente percebida nos outros e menos em si mesmos. Identificar os próprios comportamentos como paradoxais exige um certo grau de auto-conhecimento difícil de se adquirir. Talvez esta seja uma razão das muitas que expliquem o porquê de, quase sempre, percebermo-nos mais normais, mais justos, mais corretos, etc., que os demais. Seria fácil acreditar que isto é verdade, não fosse o fato de que somos os outros na visão dos outros... Paradoxal, não?!

Este autor será, por exemplo, obrigado a reconhecer que, se esta não fosse sua própria postagem, seria bem mais fácil divisar as razões que a levaram ser publicada tão tardiamente, mesmo tendo sido pensada tanto tempo atrás...