sábado, 30 de abril de 2011

Encontros


"— Como?!

A pergunta, apesar de sinceramente interessada, não deixava dúvidas quanto à incredulidade que lhe ia no ser. E a despeito da proposta estapafúrdia que recebera, ainda não havia conseguido identificar ao certo se seu interlocutor estava caçoando dele ou não, tamanha era a sobriedade com que lhe fora colocada.

— O que, exatamente, o senhor não compreendeu?
— Por um instante me pareceu que o senhor propunha comprar meu tempo, literalmente?!
— Sim. E que mal há nisso?
— Que conversa mais absurda! Desde quando é possível para alguém adquirir o tempo de outrem?
— Desculpe, mas isto é um problema meu. Deseja vendê-lo ou não? Pago por minutos e pago muito bem...

Pensou em reagir, mas encerrou aquela conversa bizarra de forma educada, imaginando que, talvez, aquele senhor pudesse sofrer de algum distúrbio mental. Seguiu seu caminho, mas logo foi detido, um pouco mais adiante, por um antigo conhecido seu.

— Ora, mas que surpresa agradável encontrá-lo por aqui! Há quanto tempo não nos falamos!
— Pois é... Muito, não?! Como vai a família?
— Ótima! Meus filhos se casaram há alguns anos e meus netinhos já estão a caminho...
— Mas já? Ainda ontem eu os carregava no colo!
— As décadas voam, não? E aquele seu projeto da grande viagem com toda a família, realizou?
— Infelizmente, não. Ainda não tive uma folga no trabalho...
— E aquela sua ideia de criar uma fundação beneficente?
— E lá tive algum momento meu para pensar nisso? Tenho trabalhado demais...
— Bom, pelo menos deve estar bem financeiramente. Logo, logo poderá diminuir o ritmo e aproveitar o que a vida tem de melhor...
— Sem dúvida que sim! Mas, agora, com licença. Estou com um pouco de pressa pois tenho de chegar no banco antes que termine o expediente. Hoje é o último dia para aproveitar umas taxas de juros diferenciadas em empréstimos pessoais. De qualquer forma, foi ótimo nos encontrarmos por aqui! Nunca sobra tempo para colocarmos a prosa em dia, não é mesmo?! Lembranças à família!

Despediram-se apressadamente enquanto, ao longe, um senhor sóbrio os fitava demoradamente...
"