quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Brasília



Ainda em clima brasiliense, é bom ressaltar que a cidade de Brasília no Distrito Federal é arquitetonicamente linda! Idealizando e construindo a atual Capital Federal, Juscelino Kubitscheck, exímio político que era, fez dois favores: um para o Brasil, outro para sua classe.

A razão para o primeiro advém da Geografia básica, protegendo o centro administrativo do país no interior do continente e, por conseguinte, desenvolvendo a remota região do centro-oeste brasileiro. A razão para o segundo, mais sutil, vem do afastamento das grandes massas.

Não há como se certificar desta afirmação, mas o fato é que além da distância dos grandes centros urbanos, tudo na cidade foi projetado para ser imenso, espaçoso e sob um sol implacável. Como disse uma amiga, características ótimas para atenuar o impacto de uma manifestação popular.

Apesar dessa distância entre o povo e seus representantes não ser uma novidade na democracia brasileira, não se engane, pois no que se refere aos valores individuais e coletivos de nossa sociedade atual, a representação política é, muito provavelmente, fidedigna.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

"De-quem-mocracia"?

Uma rápida visita ao Congresso Nacional é o suficiente para mostrar muita coisa. A distância entre o poder e a população é muito mais distante do que se imagina. Basta dar uma volta por Brasília: luxo e "glamour" convivendo com a pobreza e resignação.

Dentro da Câmara e do Senado, "o bicho pega", literalmente. São muitos os interesses em jogo, poucos da grande massa popular. Quem acompanha as notícias pela imprensa — que são muitas — possui apenas uma vaga noção do que acontece ali de fato.

Em meio a matérias cabeludas como a da "Ficha Limpa" para os cargos eletivos e do maior controle do poder de investigação da Polícia Federal, havia uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional), apelidada de "Trem da Alegria dos Cartórios".

A PEC 471 tenta legalizar, através de uma emenda à Constituição Brasileira de 1988, cerca de 5000 donos de cartórios indicados (sem concurso público), cujos cargos são vitalícios e hereditários. Lembra das Capitanias Hereditárias? Então...

A despeito da total ausência de justificativa jurídica, lógica e/ou racional para a aprovação de algo deste tipo (ninguém conseguiu me explicar uma que não fosse meramente emocional), o que mais assusta é que alguém queira mudar a Constituição Brasileira para favorecer cerca de 0,0027% da população deste país — milionários, diga-se de passagem — passando por cima do Conselho Nacional de Justiça, OAB, STF e de quem se puser na frente. Isto sem falar no precedente jurídico-democrático que será aberto com uma eventual aprovação.

A parte boa é que o voto para uma PEC tem que ser aberto. Desta forma, como não há uma justificativa lógico-racional para aprová-la, fica fácil saber quem são os legisladores cujo "apoio moral" vem dos 0,0027% dos cidadãos mais cidadãos que outros...


segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A Energia dos Combustíveis.

Muitas notícias dão conta de novos estudos para a obtenção de combustíveis renováveis, a exemplo do que foi feito com o etanol no Brasil. A ExxonMobil, por exemplo, anunciou um contrato de cerca de US$ 600 milhões na pesquisa da produção de óleo a partir de algas. Além disto, fala-se de carros híbridos com menor consumo de gasolina, metanol, biodiesel, etc.

A pergunta que não quer calar, entretanto, é o porquê desses recursos não serem aplicados em energias renováveis como a solar, eólica, hidrogênio, etc. Por que continuar dependendo dos antigos motores a combustão para movimentar a frota de veículos na sociedade moderna?

O que mais assusta é a negligência dos governos no mundo inteiro que, ao invés de concentrar seus incentivos de pesquisa nessa direção, continuam alimentando o "monstro dos combustíveis".

domingo, 27 de setembro de 2009

Música do Gás!


Quem não conhece aquela musiquinha irritante que o caminhão do gás tocava antigamente?! -nã--nã--nã--nã-... Tã-nã-nã-... Tã-nã-nã-... Se sua juventude não for excessiva, deve se lembrar bem dela.

O que talvez poucos se lembrem é que ela foi tirada de uma composição clássica de um dos maiores compositores de todos os tempos: Ludwig van Beethoven. Trata-se da obra "Fur Elise", composta em lá menor, provavelmente, na primeira década do século XIX.

É impressionante a habilidade humana de transformar notas musicais em uma obra-prima e esta, em notas musicais, apenas...

Hoje, por muito menos do que o valor de um tambor de gás de cozinha, pode-se adquirir um CD com esta e outras obras de Beethoven. Tocada por uma orquestra, a "música do gás", definitivamente, não parecece ser chata.

sábado, 26 de setembro de 2009

Liberdade, liberdade, abra as asas sobre nós!

Chegou-me às mãos um texto do Marcelo Gleiser, publicado no caderno Mais! da Folha de São Paulo no dia 6 de setembro de 2009, véspera do Dia da Independência brasileira. O texto está publicado também em seu "blog" e vale a leitura para quem tiver curiosidade de lê-lo na íntegra.

Oportunamente, comentou sobre a liberdade e dentre as frases apresentadas sobre o tema, a seguinte é muito interessante por ser aparentemente paradoxal: "Ser livre é poder escolher ao que se prender".

Ser livre e ser errático ou aleatório são estados completamente diferentes, mas são curiosa e frequentemente confundidos por muita gente. Basta notar a atitude daqueles que optam por não seguir regra alguma, esquecendo-se de que esta é uma regra escolhida para ser seguida...

Além disso, a frase também coloca nossas convicções em xeque pois, conforme já exposto aqui, decorrem das conclusões de outras pessoas, cujo conhecimento e cultura nos foram ensinados previamente.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

O Senso Comum.


Os epidemiologistas, como o próprio nome diz, estudam as epidemias, ou seja, a difusão de doenças entre grandes grupos. Trata-se de uma disciplina moderna com não mais de dois séculos de existência.

O livro de Robert Matthews, 25 Grandes Idéias: Como a Ciência Está Transformando Nosso Mundo, editora Zahar, apresenta como exemplo de estudo epidemiológico o aumento da incidência de câncer retal na população da região européia de Gwynedd, atingida pela radiatividade proveniente do acidente em Chernobyl na década de 1980. Sob uma análise superficial, um aumento de 50% na taxa de incidência deste tipo de cancêr na população dessa região, quando comparada com a média no resto do País de Gales, certamente faria com que a maioria das pessoas apontassem a radiatividade remanescente do local como a causa do problema. Entretanto, segundo o texto, este aumento significativo equivale a um único caso a mais a cada dez mil pessoas!

Concluir algo baseado em evidências deste tipo parece ser bastante comum e não representa grandes riscos na maioria das vezes. Igualmente comum é a atitude de assumir tais conclusões como certezas e, isto sim, pode acabar sendo bastante danoso, não só para o indivíduo, mas também para a coletividade.

A visão crítica da vida é um exercício de humildade, absolutamente essencial para o próprio crescimento pessoal. E a epidemiologia parece saber disso...


quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Analogias.



Uma forma interessante de compreender determinadas coisas é traçar uma analogia entre algo simples, do cotidiano, e o objeto a ser compreendido.

Pense em um jogo de xadrez. Com uma certa abstração, o jogo pode ser análogo à sociedade, à uma guerra ou... à vida! Nenhuma novidade... Um provérbio italiano já dizia: "Alla fin del gioco, tanto va nel sacco il re quanto la pedina." ou, em uma tradução livre, "Ao final do jogo, tanto o rei quanto o peão voltam para a mesma caixa.".

E se fôssemos além?! Imagine uma partida única partida de xadrez: começo, meio e fim. Após escolher e realizar o movimento, não se pode mais voltar... Só se executa um único movimento por vez, com uma única peça que possui valor, movimentação e função específicos... A partida dura mais ou menos tempo segundo a habilidade do jogador... É certo que a partida vai terminar: em vitória, em derrota ou em empate.

Da mesma forma, a vida possui começo, meio e fim, durando mais ou menos tempo, segundo a habilidade de quem está vivendo — ou jogando. O oponente, chamado Destino, responde a cada movimento feito de forma irreversível, obrigando o outro a arcar com as consequências de suas próprias escolhas. O que se usa e/ou se pode perder — saúde, felicidade, dinheiro, amigos e até o próprio viver — são as peças do jogo.

Não é interessante notar como alguns jogadores são capazes de abrir mão de peças valiosas para dar o cheque-mate no Destino?

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

De volta à realidade!

Uma das formas mais divertidas que uso para calibrar minha impressão sobre mim mesmo é contemplar o mundo à minha volta. Pode-se iniciar pensando na família, nos amigos, na cidade, no país, no planeta com mais de 6 bilhões de pessoas... Cada uma com sua importância e suas dificuldades!

Depois pensando em algo como nos períodos de aquecimento e resfriamento ao longo da história da Terra, com cerca de 140 milhões de anos cada! Toda a história cristã possui pouco mais de 2000 anos... Toda história hebraica, pouco mais de 5700... Toda existência humana, cerca de 200 mil anos, ou seja, uns 0,14% de um único período desses.

E qual era mesmo sua sua idade? Talvez 20, 30, 50, 80... Quem sabe 120 anos!

Saber que toda nossa vida é irrepresentável na escala do tempo da existência, traz um certo conforto com relação aos nossos problemas e nos leva de volta à realidade — não a nossa, mas a do Universo.


terça-feira, 22 de setembro de 2009

Dia Mundial Sem Carro.


Hoje dava para ver uma faixa da estação Sumaré do Metrô:


"Carrodependência tem cura"

E no noticiário regional da Rede Globo, SPTV, uma equipe de reportagem saiu às ruas para trabalhar sem carro. Ao entrevistar um motorista, perguntando se ele, no Dia Mundial Sem Carro, não quis deixar o carro na garagem, seguiu a desculpa:

"Ah, não dá. Eu trabalho!"

E o repórter:

"Ah, o senhor trabalha?! Que coincidência! Eu também!"

Vendo hoje os prefeitos do Rio, Eduardo Paes, e de São Paulo, Gilberto Kassab, irem trabalhar de bicicleta e de ônibus respectivamente, fico pensando o porquê do transporte público nas grandes cidades brasileiras ser tão pouco prioritário. Talvez se, não só os prefeitos e nem só no Dia Mundial Sem Carro, todos os servidores públicos dos mais altos cargos do legislativo, executivo e judiciário tivessem de deixar seus carros em casa durante algum tempo, a matéria fosse mais cuidadosamente estudada.

Pelo menos para mim, parece muito claro que, se as pessoas preferem enfrentar o caótico e já quase insuportável trânsito de veículos automotores nas capitais, é porque a alternativa que eles têm é muito pior.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Enquanto isso...


...do outro lado, ficam aqueles que não processam nada do que leem, ouvem ou veem. Aceitam de pronto tudo o que recebem como informação, sem questionar nada. Naturalmente, eles também possuem opinião.

A falta de pensamento crítico é uma das coisas mais democráticas que eu já vi. Não depende de sexo, cor, credo, condição socioeconômica ou formação... O problema é que — com o perdão do trocadilho — a análise crítica do cidadão, ao meu ver, está nas bases de sustentação de um regime democrático.

O mais intrigante, entretanto, é quando os dois casos se sobrepõem... Imagine alguém que não respeita a opinião de outras pessoas e, ao mesmo tempo, aceita sem questionar qualquer coisa dita — na mídia, por exemplo — desde que isto vá ao encontro de sua própria opinião.

Imaginou?!

domingo, 20 de setembro de 2009

Opinião dos outros.


É interessante como parece funcionar a dinâmica de nossas próprias convicções... De forma geral, as pessoas somos tão orgulhosos das próprias opiniões que nos esquecemos de que não as criamos sozinhos. Levante o dedo aí quem foi educado em uma sociedade de seres sem nenhum contato com os humanos! Ninguém?! Pois é...

Parece um tanto óbvio que o que pensamos seja fruto dos ensinamentos e das experiências de muitas outras pessoas, contemporâneas ou não, e que toda esta bagagem vai se transformando ao sabor de nossas próprias experiências, frustrações, alegrias, reflexões... Você lê, ouve, vê, concorda, discorda, aprende com base no que outras pessoas escreveram, falaram, mostraram, argumentaram, ensinaram... E mesmo assim, tão pouca gente respeita a opinião de outras pessoas.

Mistério...

sábado, 19 de setembro de 2009

Introspecção.


Ainda no mesmo tema, outra frase que vale a reflexão é:

"Quem conhece os outros é sábio; quem conhece a si mesmo, é iluminado." (Lao-Tsé)

Coincidência ou não, noutro lado do mundo, mais ou menos na mesma época, o templo do Oráculo de Delfos ostentava outra frase muito similar:

"Conhece-te a ti mesmo que conhecerás os deuses e o universo."

Sinistro...

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Entender-se.


Ler é uma atividade fantástica. Não só pela informação associada à prática, mas também pela formação e consolidação de conceitos e ideias que nem a gente mesmo sabe que possui. O "tocar fundo" é, provavelmente, fruto da identificação que fazemos de nossas próprias convicções nas palavras do autor. Aliás, creio que o processo seja similar, mesmo que de forma mais abstrata, em qualquer uma das demais manifestações artísticas humanas.

No encarte do "The New York Times" veiculado pela Folha de São Paulo em 31 de agosto de 2009, Pamela Bloom discorre sobre a dificuldade que temos em deixar para trás sentimentos como ódio, rancor e ressentimento. Em meio suas argumentações, as palavras do, segundo ela Lama Zopa Rinpoche, mestre em meditação tibetana, eram, para mim, como pontos brilhantes em meio ao texto:

"Enquanto você não mudar sua mente, sempre haverá um inimigo para lhe fazer mal."

Talvez não lhe soe com a mesma profundidade. Ou talvez sim. O fato é que ser tocado pelo que outra pessoa escreve é como ter uma porta interna aberta por chaves que ainda não possuíamos, trazendo a luz do mundo real para nossa própria escuridão interior. E frequentemente nos surpreendemos, positiva ou negativamente, com nossas próprias ideias. Neste caso em particular, o fato dos principais inimigos não serem externos.

Para os pseudo-céticos de plantão, na capa do mesmo encarte, duas semanas antes, em 17 de agosto de 2009, um texto falava sobre a busca da felicidade pelos seres humanos e citava uma experiência feita com outro Rinpoche — mas também Lama tibetano —, Yongey Mingyur Rinpoche, em cuja tomografia cerebral fora constatada uma atividade incomum no lobo pré-frontal esquerdo (polo das boas emoções, segundo neurologistas), aliás, como também nas de outros monges submetidos ao mesmo experimento.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Certezas lá pelos idos de 350 a.C.


Recebi uma dessas apresentações que a gente costuma receber nas mensagens eletrônicas. Bem verdade que eu já a havia visto e várias frases me chamaram a atenção. Como este "blog" ainda não existia, elas ficaram lá, meio esquecidas, em uma das minhas gavetas mentais. Uma delas, em especial, lembrou-me de uma conversa que tive recentemente... Diz assim:

"O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete." (Aristóteles)

Não sei se o autor é mesmo Aristóteles, mas de qualquer forma, a verdade que ela traz não deveria depender da autoria...

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Brasileira!


A Folha de São Paulo, no seu caderno Ilustrada de 16 de agosto de 2009, publicou um excerto de "Lina por Escrito":

"A arquitetura brasileira nasceu como uma bela criança, que não sabemos por que nasceu bonita, mas que devemos em seguida educá-la, curá-la, encaminhá-la, seguir sua evolução; houve o milagre do nascimento, a diretriz, a continuação da vida. A arquitetura contemporânea brasileira, não provém da arquitetura dos jesuítas, mas do 'pau a pique' do homem solitário, que trabalhosamente cortara os galhos na floresta, provém da casa do 'seringueiro', com seu soalho de troncos e o telhado de capim, é aludida, também ressonante, mas possui, em sua resolução furiosa de fazer, uma soberbia e uma poesia, que são a soberbia e a poesia do homem do sertão, que não conhece as grandes cidades da civilização e os museus, que não possui a herança de milênios, mas suas realizações — cuja concretização foi somente possível por essa soberbia esquiva — fazem deter o homem que vem de país de cultura antiga."

Achillina Bo Bardi nascera em 1914 na cidade de Roma. Acho que dispensa comentários...

Começar...


Tenho de confessar. As excelentes postagens de amigos e amigas minhas me motivaram a também editar um "blog". Afinal de contas, é o intercâmbio de ideias que nos ajuda a encontrar o "melhor" caminho, se é que isto existe.

O nome escolhido, obviamente, tem a ver com esta interseção de mundos... Uma vez que tudo o que existe a nossa volta parece ser fruto exclusivo de nossas próprias percepções — ou modelos mentais —, vislumbrar o universo visto pelos olhos de uma outra pessoa é uma necessária referência para que não nos furtemos à realidade.

Complexo, não?! Pois é, a vida é assim...