segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Dia das Bruxas

A meio caminho entre o equinócio e o solstício no hemisfério norte, é comemorado o Dia das Bruxas, ou "Halloween", principalmente entre os povos de origem anglo-saxã. Originalmente, o dia nada tinha a ver com bruxas, demônios ou outras entidades misticamente más. A fama se deve, muito provavelmente, ao cristianismo romano quando se mesclou às "estranhas" práticas dos povos ditos pagãos. Hoje, os países de língua inglesa, em especial os Estados Unidos da América, Canadá e Reino Unido, são os guardiões dessa tradição e promotores de seus costumes típicos. Entre estes, além dos tradicionais pedidos das crianças por guloseimas, em troca de não realizar travessuras, está o de contar histórias horripilantes na noite do dia 31 de outubro a fim de apavorar a audiência. O Automorfo resolveu experimentar...

"Era uma vez um rapaz de origem humilde que, honestamente, havia se esforçado durante toda sua vida para se desenvolver na sociedade em que vivia. Apesar de seus pais não lhe terem proporcionado uma vida financeiramente confortável, nada de realmente essencial havia lhe faltado. Pôde se educar em um colégio particular de freiras, fazer cursinho com o auxílio de uma bolsa de estudos, entrar na faculdade e se formar. Já no seu primeiro estágio, convidaram-no para ingressar em uma grande empresa, conseguindo, assim, um bom emprego que lhe permitiu ascender economicamente. Jamais, no entanto, esquecera-se de suas origens e continuava a olhar a vida com os mesmos olhos simples que o haviam levado até ali. Achava muito estranho, aliás, quando seus colegas teciam comentários como se fossem diferenciados com relação aos demais, de menor renda, mesmo possuindo trajetórias de vida tão similares.

Naquele final de outubro, começara acalentar a ideia de adquirir um espaço próprio, algo que, após se dedicar por mais de dez anos ao trabalho, parecia-lhe natural como próximo passo. Porém, ciente de suas limitações financeiras, descartou da pesquisa os imóveis novos e em bairros muito nobres, atendo-se apenas ao que entendia ser uma boa localização. Encheu-se de coragem e perguntou o preço do primeiro apartamento que viu à venda no bairro de sua escolha, mas se engasgou com a resposta que o porteiro lhe deu com toda naturalidade: quase um milhão. Consolou-se com a justificativa relativa ao tamanho do imóvel e repetiu a pergunta quando encontrou outro, menor, mas a resposta foi similar, abatendo-o novamente. A cena praticante se repetiu até o final daquele dia, quando percebeu que meio milhão era a melhor proposta disponível. A matemática, então, passou a lhe torturar o cérebro: seriam necessários mais cinco anos de trabalho para comprar o imóvel mais barato que encontrara caso pudesse juntar dez mil por mês, mas como sequer ganhava esse valor, o maior sacrifício que vislumbrava, cerca de mil mensais, demandaria mais de quarenta anos para lhe tornar proprietário de um lugar para viver.

Assim, naquela noite do dia 31 de outubro, uma escuridão apavorante tomou o espírito do rapaz e a maldade passou a vigorar no seu interior. Sem interromper seu caminhar pela noite adentro, olhou para uma placa de trânsito à sua frente e sorriu, maldosamente, certo de que o mundo jamais seria igual para ele depois daquele dia das bruxas...
"