quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Dilema ideológico


A caminho das eleições, as caixas de mensagens eletrônicas vão se abarrotando e se pode encontrar de tudo: pesquisas amadoras contradizendo pesquisas profissionais, comparativos "imparciais" entre históricos dos candidatos, interpretações inéditas da legislação, enfim, uma enxurrada de propagandas políticas travestidas de argumentos lícitos e imparciais. No embate ideológico virtual, usualmente envolto em uma anonímia conveniente, defensores de todos os lados opinam tão livremente que é possível, ao leitor mais atento, ter uma boa amostra do que se passa na cabeça de uma parte da sociedade. O amplo espectro de opiniões trazem à tona o que há de melhor e de pior nos seres humanos, tal como visto em uma das mensagens, digna de destaque por, primeiro, carregar um ranço preconceituoso repugnante e, segundo, porque o autor, anônimo, provavelmente sequer deve suspeitar que carrega tal preconceito em si, ou teria vergonha de ter escrito tamanha estupidez.

O referido texto chamava à ação os eleitores do candidato que representa a social-democracia, segundo melhor colocado nas pesquisas de intenção de voto, devido ao iminente risco da candidata da situação ganhar as eleições em primeiro turno. Propunha que eles, o autor e seus amigos, parassem de trocar mensagens eletrônicas sobre "o que já sabiam" e passassem a conversar com pelo menos duas outras pessoas por dia para convencê-las a votar no dito candidato. Não bastasse isso, ainda especificava quem seriam essas pessoas: "sua" assistente doméstica ou diarista; "seus" funcionários; o guarda e as "tias" da escola e da cantina; o porteiro da "sua" casa e trabalho; o manobrista do "seu" carro; o ascensorista do prédio do "seu" dentista, do "seu" advogado e do "seu" cliente; o frentista; a caixa do supermercado, da farmácia e do sacolão; a recepcionista da empresa do "seu" cliente; a vendedora da loja de sapato e de roupa; o garçon [sic]; o cabeleireiro; a manicure; a fisioterapeuta; a massagista; o atendente da sauna, da academia, da escola de natação, da escola de inglês das crianças, etc. Enfim, qualquer cidadão ou cidadã que, apesar de trabalhar duro e contribuir com a sociedade, não compartilha da formação, inteligência, superioridade e discernimento do autor e de "seus formadores de opinião".

Ao invés de também opinar sobre a barbaridade acima, talvez algumas definições, encontradas em qualquer "pai dos burros", sejam mais esclarecedoras e úteis:

  • Social: "concernente à sociedade; concernente à amizade e união de várias pessoas" (Houaiss, 2001). "Da sociedade, ou relativo a ela; sociável; que interessa à sociedade" (Aurélio, 1994).
  • Democracia: "governo do povo; governo em que o povo exerce a soberania; sistema político cujas ações atendem aos interesses populares; (...) sistema político comprometido com a igualdade ou com a distribuição equitativa de poder entre todos os cidadãos" (Houaiss, 2001). "Governo do povo; soberania popular; doutrina ou regime político baseado nos princípios da soberania popular e da distribuição equitativa do poder, ou seja, regime de governo que se caracteriza, em essência, pela liberdade do ato eleitoral, pela divisão de poderes e pelo controle da autoridade, i. e., dos poderes de decisão e execução; (...) as classes populares; povo, proletariado" (Aurélio, 1994).

Então, fica o dilema: o candidato, se eleito, deveria ou não, responder positivamente aos anseios de seus eleitores?



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