Ontem a BBC veiculou uma notícia sobre a notificação feita pelo Pentágono ao Senado estadunidense, dando conta de um acordo para vender armas ao governo saudita no valor de US$ 60 bilhões. A Inteligência estadunidense estima que o acordo poderá manter cerca de 75 mil empregos nas indústrias bélicas do país e o porta-voz do Departamento de Estado, a despeito da polêmica, deixou claro que os EUA não tomariam qualquer atitude que pudesse comprometer o equilíbrio de forças na região. A Arábia Saudita, aliada dos EUA no Oriente Médio, é uma das maiores compradoras de equipamentos bélicos do mundo entre as nações em desenvolvimento, com negócios estimados em mais de US$ 36 bilhões entre os anos de 2001 e 2008. Na década de 1980, quando os EUA se negaram a vender armamentos ao país, a Arábia Saudita acabou comprando a maioria de seus aviões militares do Reino Unido.
Considerando as diferenças político-ideológicas entre os dois mundos, anglo-saxão e árabe, não há como não se admirar com um anúncio dessa natureza. Por outro lado, talvez essa admiração mostre, apenas, a enorme distância entre o que é "dado a entender" nos meios de comunicação de massa e a realidade, nua e crua. Depreende-se de tal fato que o radicalismo capitalista seja ainda mais efetivo que o religioso, uma vez que, no cenário em questão, não parece ser bem os ideais aquilo que orienta as relações comerciais ou ações militares entre os Estados — senão o capital, fundamentalmente. São critérios financeiros, não ideologias, que geralmente definem a interferência de uma nação para impedir que nativos se matem, pessoas morram de fome, crianças definhem em condições sub-humanas, etc.
Além disso, não deixa de ser curiosa a lógica que permeia todo o sistema, na qual, para se garantir a vida de alguns, ameaça-se a vida de muitos outros — afinal, não se produziria armas de guerra não houvesse a intenção de utilizá-las. E, apesar de pouquíssimos indivíduos realmente lucrarem com essa lógica perversa, muitos acreditam também ganhar com o processo, nem que seja somente pelos empregos gerados na indústria bélica. O que não costuma ficar evidente, no entanto, é a inversão de valores proporcionada por um modelo em que a "indústria da morte" passa a sustentar a vida. Só para se ter uma ideia um pouco mais clara da situação, estima-se que, no ano passado, quase US$ 1,5 trilhão tenham sido empregados em gastos militares em todo o mundo — pouco mais de US$ 200 per capita.
Nada como um vultoso volume financeiro para aproximar ideologias, superar sectarismos e, principalmente, sujeitar a vida ao capital.
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