Pode-se formular algumas hipóteses do porquê as informações sobre os produtos comercializados serem, assim, tão nebulosas. A primeira, mais simples, é que tudo isso seja obra do acaso e que os consumidores estamos ficando absolutamente neuróticos, preocupando-se com detalhes absolutamente irrelevantes. A segunda é que os profissionais que trabalham em todas essas empresas sejam completamente ignorantes sobre a função daquilo que se expõe nas embalagens dos produtos. A terceira, e última, é que tornar nebulosas as informações dos produtos comercializados seja uma decisão tomada para, deliberadamente, ludibriar os consumidores. Essas três proposições, a princípio, parecem englobar, satisfatoriamente, todas as possibilidades para explicar o que se vê, hoje, nas prateleiras dos supermercados. Mas, caso o leitor, ou a leitora, conheça alguma outra hipótese para explicar adequadamente a razão da balbúrdia informativa em questão, fique a vontade para expô-la nos comentários da postagem.
Ser obra do acaso é muito pouco provável, uma vez que há cursos, departamentos ou empresas que se ocupam, exclusivamente, da apresentação dos produtos nos pontos de venda, não sendo, aliás, um serviço barato. Além disso, no caso dessa primeira hipótese ser mesmo válida, seria bom que o governo começasse a pensar, séria e rapidamente, em alguma política pública para acompanhar e tratar a saúde mental de boa parte dos cidadãos, haja vista não ser poucos os casos em que os consumidores são vítimas nas relações de consumo e parcamente compensados por ações judiciais. Pelo mesmo motivo, é igualmente improvável que os profissionais que trabalhem nessas empresas ignorem a função do que informam nas embalagens. Certamente, não apenas possuem plena ciência do que fazem, como também se mantêm atualizados para não ferir qualquer ponto da legislação em vigor — cada vez mais apertada.
Resta como plausível, portanto, apenas a última hipótese, ou seja, a confusão informativa é proposital e deliberada com a única função de trapacear. Como ninguém normal leva um computador à tiracolo para ficar calculando o custo de tudo o que compra (aliás, apenas uma minoria na sociedade brasileira tem condições econômicas para ter um computador portátil), o consumidor acaba sendo induzido a pagar alguns reais a mais*. O mesmo acontece quando alguém vende uma "bebida láctea" (feita com soro de leite) com uma embalagem muito parecida a de um "iogurte para beber". Também quando a barra do seu chocolate começa a diminuir de tamanho para "melhor atender" as exigências dos consumidores, mesmo sem ter um centavo de abatimento no preço. Ou quando o suco de caixinha deixa de ser "suco" e passa a ser "néctar de fruta" pelo mesmo preço. Ou, ainda, quando a empresa se recusa a rotular um produto indicando o uso de alimentos transgênicos. Empresas com esse modus operandi são desonestas e merecem o desprezo por parte de toda a sociedade.
E quando o Estado intervém para coibir abusos assim, os preços voltam a subir para refletir o aumento dos custos na adequação à nova legislação. Assim caminha a humanidade...
* Volte na tabela da postagem de ontem e note que, excetuando-se a marca I (própria do supermercado), a marca II aparece com o menor preço, mas, na realidade, é a segunda mais cara.
Nenhum comentário:
Postar um comentário