Quem acha que os processos colonizadores terminaram lá no final do século XIX é porque não acompanha os sutis lances da geopolítica mundial. Todavia, não se pode dizer que as formas de subjugar outros povos, visando exclusivamente os próprios interesses, tenham permanecidos inalteradas desde então. Ferramentas e métodos mudaram sensivelmente e a "sutileza" das ações é um bom exemplo disso. Nenhum Estado, hoje, chega em outros locais assassinando habitantes nativos e tomando suas terras, riquezas naturais e autonomia totalmente às claras, como tantas vezes foram feitas alguns séculos atrás; os meios atuais são bem mais sutis. Isto não necessariamente é uma vantagem, uma vez que ações veladas dificultam, sobremaneira, a adequada identificação do inimigo contra quem se deve lutar.
Em meados de junho, o The New York Times noticiou a descoberta, por parte do Pentágono, de uma enorme reserva inexplorada de lítio no Afeganistão. Segundo as autoridades estadunidenses, estima-se que o potencial econômico das reservas possa atingir cerca de US$ 1 trilhão. Só para se ter uma vaga ideia do que isto significa, todo o produto interno bruto do Afeganistão é estimado pelo Fundo Monetário Internacional como sendo, para este ano, cerca de US$ 17 bilhões, ou quase 1/60 do valor atribuído à reserva. Além disso, considerando a crescente demanda do elemento, essencial à produção de baterias para equipamentos elétricos e eletrônicos, o valor estratégico da reserva — que é maior do que qualquer outra conhecida no mundo — deve ultrapassar em muito seu valor financeiro.
Do outro lado do mundo, no extremo sul da América Latina, os britânicos iniciaram, entre fevereiro e março deste ano, a prospecção de petróleo nas águas de um de seus territórios ultramarinos. O problema é que especificamente esse território, o das Ilhas Malvinas (ou Falkland Islands), tem sido disputado há anos no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) pela Argentina. O Brasil, em conjunto com os demais países que participaram da Cúpula da América Latina e Caribe, posicionou-se favorável à reintegração do arquipélago à soberania argentina, repudiando a decisão unilateral tomada pela Grã-Bretanha de prospectar petróleo na região. Um detalhe interessante é que, à época, ninguém sequer podia imaginar a catástrofe que as operações de uma empresa petroleira britânica causariam no Golfo do México.
E quem poderia pensar que a sutileza se tornaria um mecanismo de dominação?
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