Há pouco mais de nove anos atrás, uma plataforma de petróleo da Petrobras, a P-36, foi avariada por algumas explosões e afundou na bacia de Campos, Rio de Janeiro. Na ocasião, onze pessoas morreram e outras tantas ficaram feridas. Apesar de todo esforço das equipes de contenção, o dano ambiental foi bastante grande e a mancha de óleo na região ultrapassou os 50 km². A Petrobras estimou que cerca de 26 mil litros de óleo tenham vazado durante o acidente e nos dias que se seguiram. À época, muitos "brasileiros" não pouparam críticas à estatal e, indiretamente, a engenharia brasileira.
Em 2010, quase um mês depois de um acidente que afundou uma plataforma de petróleo no Golfo do México, matando 11 pessoas, técnicos de uma empresa petrolífera do primeiro mundo tentam, desesperadamente, conter um vazamento submarino de petróleo que vem ocasionando uma catástrofe ambiental de tal ordem que deve ir além dos limites da região e estender-se até o litoral da Luisiana. Estima-se, conservativamente, que o vazamento chegue a impressionante marca de 800 mil litros de óleo cru por dia e que os prejuízos, entre custos diretos, indiretos e de recuperação ambiental, sejam da ordem de bilhões de dólares americanos. Pelo menos, a empresa estrangeira não foi alvo de chacotas similares àquelas dirigidas à Petrobras alguns anos atrás.
Mas a esquizofrenia da brasilidade é apenas um adereço que adorna uma questão muito mais delicada: quanto vale a pena explorar fontes energéticas com elevado risco ambiental? Parece claro que, no longo prazo, os custos — ambientais, sociais e econômicos — decorrentes de grandes catástrofes superam as vantagens auferidas nesse tipo de exploração. Uma evidência disso é que são os Estados que assumem a maior parcela dos custos de recuperação ambiental. Qual seria, por exemplo, a real extensão dos prejuízos ocasionados por uma eventual explosão em um dos reatores nucleares em Angra dos Reis? Claro que o risco é baixo, mas já aconteceu em Chernobil há 24 anos atrás...
Ninguém seria tolo o suficiente para crer que seria possível abandonar, simples e imediatamente, todos esses recursos, especialmente o petróleo. Mas não há dúvidas de que um maior esforço para se pesquisar alternativas seria perfeitamente viável, tal como já comentado por aqui em "E por falar em energia...". A própria Petrobras é um dos grandes investidores na pesquisa de alternativas energéticas, limpas e renováveis, não só pelo fato de ser estatal e perseguir objetivos de caráter público nem sempre lucrativos, mas também por reconhecer que deter a tecnologia de tais alternativas é absolutamente estratégico dos pontos de vista político, econômico e militar. Enquanto a China, por exemplo, vem montando a maior usina de energia solar do planeta, o Brasil, país com a maior extensão territorial na região tropical do mundo, ainda não parece compartilhar da mesma visão de futuro.
Quem, de fato, acredita neste país sabe que não falta competência científica por aqui para se alcançar a liderança mundial na produção de energia limpa e ecologicamente segura. Já para quem não acredita, tudo parece piada. Ah, se riso fosse energia...
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