De qualquer forma, sentia que ele me observava com particular interesse e lamentava meu estado de espírito. Sua simples presença, ali, denunciava parte do que refletia: apesar de compreender as necessidades próprias dos seres humanos, não conseguia entender como algo criado por nós mesmos podia perturbar tanto nossos espíritos. Provavelmente, ao longo de sua breve existência, viu passar muitas outras almas como a minha, vagueando perdidas por aquelas bandas.
Sorri e, sob o sol, sentei-me de fronte a ele. Passamos, então, a conversar. Não como se faz com outro semelhante, mas de uma forma diferente, em uma espécie de linguagem universal. Claro que ouvia apenas minha própria voz na minha mente, mas, pelo menos naquele instante, tinha certeza de que era o lírio quem falava. Disse-me que seus pares, lírios, também tinham de enfrentar várias dificuldades para sobreviver, mas isto não lhes impedia de se fazerem tão belos quanto possível assim que a época da floração chegava. E faziam isto porque, de alguma forma, sabiam que doar sua beleza àquele mundo era essencial para a existência deles. Não se preocupavam se choveria no dia seguinte, se alguém os arrancaria em alguma manhã ou se algum outro ser os perturbaria em busca de néctar, pois confiavam em um propósito muito maior do que eles próprios.
E enquanto eu, sem dizer palavra, ouvia tudo o que me dizia, fui me confortando. Até que, de súbito, olhei ao redor e voltei a mim. Senti-me um tanto desconfortável com a ideia de estar ali, conversando com uma flor, afinal, lírios não falam!
Mas era tarde. Meu ânimo já havia melhorado..."
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