Mas se a fala mostra algo do pensamento que a produz, também o ouvinte, ao reagir à ela, acaba por revelar algo do que lhe vai no íntimo. Em ambos os casos, os agentes se surpreendem com suas próprias ações (fala ou reação), porque o que se evidencia, em geral, é subliminar para eles mesmos. Mais fértil ainda são as justificativas dadas às formas de pensar percebidas. Depois da surpresa inicial, o agente, às vezes, elabora um intrincado arcabouço de explicações racionais que supostamente o levaram àquela conclusão, exposta de maneira tão involuntária. Para o grupo social, essa justificativa costuma ser saudável, mas quando é usada para o próprio agente se convencer de que não pensara daquela forma, começa a surgir um problema, simplesmente porque algo que é justificado — ou seja, correto — não precisa ser mudado.
Foi durante uma agradável conversa entre amigos, ao redor da mesa de uma lanchonete ao ar livre, que o "cometário-bomba" é lançado. "Pobre é algo de que deveria acabar!" disse alguém. A indignação foi geral! Alguns repreenderam duramente o autor da frase, outros balançavam a cabeça como não acreditando no que haviam ouvido e outros, ainda, mantinham-se calados, com expressão de assombro, esperando o desvelar daquela inesperada situação. E apesar do clima descontraído, afinal era uma roda de amigos, um observador externo poderia perceber uma certa tensão naquela surpresa coletiva. Eis que, depois de um gole de café e muito escutar, o mesmo autor pergunta: "Por que?! Vocês não acham que os pobres deveriam ganhar mais do que ganham e deixar essa condição em que se encontram?".
E não obstante todos terem entendido o desfecho, talvez poucos tenham atentado ao significado daquela "indignação" coletiva. Afinal, era só um papo em uma roda de amigos...
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