terça-feira, 18 de maio de 2010

Tempo Estranho


"Acordou cedo, não tanto quanto planejara, mas ainda suficiente para fazer tudo o que pretendia para o dia. Vestiu-se, arrumou a cama, terminou de se arrumar no banheiro e se encaminhou à cozinha para preparar o café da manhã. Nenhuma novidade: o cereal, o leite e o café. Ingeriu tudo com uma certa pressa, afinal tinha muito o que fazer e teria apenas até o começo da noite para terminar tudo. Desejava dormir cedo para estar disposto na manhã seguinte. Escovou os dentes, sentou-se na escrivaninha e abriu um dos livros que deveria terminar de ler até o final da semana. Três parágrafos mais tarde, sentiu sede e foi novamente à cozinha buscar um pouco de água.

Saciada a sede, deixou o copo na pia e achou melhor lavar e guardar a louça do café antes que chegasse a hora do almoço. Iniciou o trabalho, mas conjecturou, também, que já era quase meio-dia e que comeria dali a pouco, assim, deixou a arrumação pela metade e retornou ao livro. Lembrou-se, entretanto, que as roupas limpas estavam por guardar desde a noite passada sobre a cômoda de seu quarto. Foi até lá arrumá-las. Peça por peça, ia separando e guardando nos devidos lugares, porém, quando faltava apenas as camisetas e as meias, viu no relógio que já passava um pouco das onze e meia da manhã. Deixou o que faltava das roupas e voltou para o livro. Havia estabelecido como meta terminar, pelo menos, aquele capítulo antes do almoço.

A leitura era bastante densa e resolveu conferir os significados de algumas palavras no dicionário para ter a certeza de que compreendera o texto adequadamente. Por segurança, achou melhor resumir todo o capítulo para que pudesse rever o conteúdo rapidamente se precisasse. Quando finalmente terminou o capítulo, quase duas horas haviam passado. Correu, então, para almoçar antes das duas horas da tarde, uma vez que teria de concluir, ainda, dois outros capítulos para que conseguisse escrever bem a primeira parte de seu trabalho.

Enxaguou um dos copos sobre a pia, serviu-se de suco, aqueceu a comida já pronta no microondas e sentou-se para almoçar. Comeu, escolheu um doce como sobremesa e juntou a louça usada com parte daquela que restara do café. Lavou tudo. Quando voltou ao livro, já eram três horas da tarde. Tornou a ler, mas quase na metade do capítulo, sentiu um sono incontrolável e achou por bem tirar um cochilo rápido de uns quinze minutos antes de continuar. O quarto de hora se transformou em dois terços e, quarenta minutos depois, levantava-se defronte à última pilha de roupas por arrumar. Sacudiu a cabeça como para espantar sua ânsia de arrumação e voltou ao livro. Não tinha terminado os capítulos planejados e sequer havia começado a escrever a introdução de seu trabalho.

Terminou o segundo capítulo e viu com espanto que escurecia rápido lá fora e viu que no relógio passava um pouco das seis. Decidiu começar a escrever algo, mesmo sem ter terminado de ler o que planejara, haja vista a necessidade de apresentar uma parte, mesmo que embrionária, de seu trabalho. Ligou o computador, checou algumas mensagens eletrônicas recém chegadas e vinte minutos depois, começou a elaborar o texto. O primeiro parágrafo demorou a tomar forma e só foi se estabilizar meia hora depois. Continuou no mesmo ritmo com o segundo, no entanto o ronco em sua barriga denunciava a hora de jantar. Comeu e sentiu sono. Era sempre assim. Olhou no relógio e viu que eram mais de oito horas quando seu colega ligou. Ficaram quase duas horas acertando os detalhes da apresentação do trabalho no dia seguinte.

Assim que desligou o telefone, voltou ao livro, mas percebeu que estava tarde e começou a arrumar o material que deveria levar no dia seguinte. Entreteu-se organizando algumas folhas de papel soltas entre suas coisas e, quando terminou, foi tomar banho. Notou as horas marcarem meia-noite e desistiu de qualquer outra coisa. Preparou-se e foi dormir, muito mais tarde do que havia previsto.

A pia bagunçada, o livro deixado aberto, as roupas por guardar e o computador ligado denunciavam que aquele dia, como de costume, havia sido, de fato, cheio. Era o tempo que, estranhamente, andava muito curto."


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