Imagine um diretor de um grande conglomerado industrial, recebendo um alto salário, prêmios por desempenho e todos os demais benefícios que só uma grande empresa pode dar, inclusive, veículo com motorista, assistências de saúde, uma certa flexibilidade de horário, um contrato de estabilidade funcional, mais de trinta dias de férias por ano, licenças-prêmio e uma gorda previdência, diferenciada dos demais mortais, para quando se aposentar. Além de todos os benefícios diretos, seu cargo ainda lhe provê uma série de outros indiretos, tais como o respeito social pela posição que ocupa, diversos tipos de assessoria da empresa em qualquer eventualidade, etc.
Suponha, agora, que esse diretor, além de suas atribuições administrativas, acumule também o comando das equipes de auditoria e ouvidoria da empresa e que, percebendo a brecha, ele comece a agir no seu dia-a-dia de forma a se beneficiar ao invés de retribuir tudo o que a empresa lhe proporciona. Para isso, lança mão de todas as ferramentas que lhe são disponíveis e começa, entre outras coisas, a desviar recursos da empresa para si ou para projetos pessoais, a contratar pessoas não pela competência mas visando troca de favores, a usar de sua influência funcional e social para obter mais privilégios entre funcionários e membros da sociedade, etc.
Só depois de várias evidências cabais de irregularidades — afinal a empresa nunca quer acreditar que um funcionário caro e privilegiado possa agir contra ela mesma — a companhia decide formar uma equipe independente de investigação. Após meses de perscrutação minuciosa, o veredicto da equipe é implacável: houve corrupção e não apenas daquele diretor, mas de vários outros em conluio. Então, a cúpula daquela empresa se reúne e decide aplicar ao caso a pena máxima possível pelos estatutos da companhia a todos os envolvidos, aposentando-os, compulsoriamente, com seus respectivos vencimentos proporcionais.
Parece ficção "hollywoodiana" para você? Para o Poder Judiciário brasileiro, não...
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