
Einstein nasceu em Ulm, uma belíssima cidade alemã, mas viveu sua infância em Munique — outra belíssima cidade alemã na região da Baviera — para onde sua família se mudou um ano após seu nascimento. Após o fracasso do pequeno empreendimento comercial familiar, seus pais mudam, em 1894, para Milão, Itália, deixando o jovem Albert em Munique para terminar seus estudos. Entretanto, seu espírito rebelde o prejudica em sua adequação escolar e, alguns meses mais tarde, junta-se à família na Itália. Em 1900, conclui seus estudos na prestigiosa Escola Politécnica Federal (Eidgenössische Technische Hochshule) em Zurique, Suíça, mas, sem a simpatia de seus professores, não consegue uma vaga para seguir com sua carreira acadêmica. Dois anos mais tarde, torna-se assistente no departamento suíço de patentes, em Berna, seguindo com seus estudos paralelamente à sua atividade burocrática. Já em 1905, publicou os três artigos que o tornariam um dos maiores cientistas do mundo, mudando não apenas os modelos científicos vigentes na Física da época, como também o conceito humano de tempo, espaço e realidade.
Longe de pretender minimizar sua genialidade, qualquer físico minimamente interessado em história sabe que boa parte dos conceitos adotados por Einstein já haviam sido formulados por outros estudiosos. Era o caso da constância da velocidade de uma onda eletromagnética — como a luz —, prevista por James Clerk Maxwell (1831-1879), bem como a contração do espaço e o retardamento do tempo para corpos em movimento propostos pelo físico irlandês George Francis FitzGerald (1851-1901) e pelo físico holandês Hendrik Antoon Lorentz (1853-1928). De qualquer forma, foi a mudança de paradigmas — componente essencial à genialidade — proposta por Albert Einstein, ao postular a constância da velocidade da luz para todos os observadores e a inexistência do éter, que, de fato, fez a diferença.
Mas Einstein, como qualquer ser humano, também tinha suas limitações e não percebeu outra mudança de paradigmas que vinha sendo indicada por seus pares. Sua certeza determinística de universo acabou por impedi-lo de contribuir ainda mais com a ciência, unindo sua teoria da relatividade com os efeitos recém descobertos da mecânica quântica — objetivo, aliás, perseguido até hoje. Einstein estava tão certo de que a teoria quântica estava equivocada que, junto a alguns colegas, tentou ridicularizá-la idealizando um experimento cujo resultado, teoricamente inevitável, julgava ser impossível — uma espécie de reductio ad absurdum experimental. Ironicamente, este mesmo experimento, mais tarde, não apenas provou que a Teoria Quântica era válida como constatou um novo fenômeno físico que não foi bem compreendido até hoje: o emaranhamento quântico (maiores detalhes em uma antiga postagem homônima do Automorfo).
Infelizmente, Einstein não viu os resultados. Morreu antes, ainda achando que estava certo...
A "certeza determinística" de Einstein ('deus' não joga dados) é exatamente isto, e apenas isto: uma certeza científica. Não é uma certeza dogmática. Se tivesse vivido mais alguns anos para ver-se enganado sobre a conclusão do seu Gedankenexperiment, Einstein teria que ou aceitar a nova ciência, ou reformular a sua antiga, para enquadrá-la às novas evidências. E foi isso que ele tentou fazer.
ResponderExcluirFoi o que aconteceu com a sua constante cosmológica. Ele pensou que se enganara quanto à sua necessidade ao ver os resultados de Hubble, e publicou honestamente sua vergonha quanto a isso ("o maior erro da minha carreira"). Anos depois da sua morte, com novas evidências, a constante foi reavivada e demonstrou-se que ela existe realmente e é ligeiramente positiva, e não nula como Einstein passou a pensar.
Ou seja, quem sabe Einstein não estava certo quanto a outras coisas também, e apenas estejamos esperando novas descobertas? Onde estão as certezas científicas, então?
Einstein nunca negou e nem negaria provas cabais de que havia algo que sua teoria não podia dar conta. Você não acha isso? Eu não acho que ele estivesse fazendo com que "a cada fato desprezado, simplesmente por não se enquadrar à metodologia científica vigente, perde-se um rico mundo de novos conhecimentos." Pra mim, o seu desacordo com os quânticos foi totalmente produtivo, e apenas os incentivaram a buscar mais evidências.
Sem querer, e com muito bom-humor, Einstein forneceu aos seus "rivais" quânticos um meio para que eles demonstrassem e entendessem melhor a sua teoria. Caracterizar a sua crítica como "ridicularizar" a teoria quântica é uma grossa distorção dos fatos. Tanto que Einstein passou seus últimos anos trabalhando arduamente para unificar a física, na forma da gravidade quântica.
Quer dizer, Einstein sabia que ele não estava totalmente certo, da mesma forma que os quânticos sabiam que a teoria de Schrödinger et al. também estava incompleta. As duas continuam imperfeitas até hoje. Nenhuma das duas é a palavra divina da criação.
Caro Luiz, primeiramente, gostaria de agradecer seus comentários. São sempre muito bem-vindos pela riqueza de conteúdo e clareza de seus pontos de vista. Em segundo lugar, quero me desculpar pela demora em responder. Infelizmente, há algumas limitações de ordem técnica ainda não resolvidas.
ResponderExcluirCom relação à Einstein, eu também acredito que ele, genial como era, não teria dificuldade nenhuma em aceitar as "evidências cabais" dos fenômenos quânticos. Também não tenho a menor sombra de dúvida quanto à produtividade — bastante óbvia de nossa perspectiva atual — de seu desacordo com os físicos quânticos. Não obstante, é inegável que suas certezas a respeito de sua própria teoria não lhe permitiram considerar algo além dela. Tanto que idealizou um experimento para provar que os resultados quânticos estavam errados e não para verificar se condiziam com a realidade.
Não só isso, com sua teoria relativística da gravidade, tentou curvar espaço e tempo para demonstrá-la; não conseguiu.
Quanto a ser uma "grossa distorção dos fatos", talvez você tenha razão, mas terá de argumentar com mais gente. Robert Matthews, por exemplo, diz em seu livro que "Einstein pode ser mais conhecido por seus acertos, mas as consequências de seu fracasso em minar a teoria quântica podem vir a ser seu mais espantoso legado científico." (25 grandes ideias: como a ciência está transformando nosso mundo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. p. 178). O termo "ridicularizar" é uma interpretação pessoal, mas que não creio estar muito distante da verdade, dada sua própria observação quanto ao "bom humor" inerente à idealização do experimento.
Por fim, em momento algum — e se houve algum, por favor, aponte-me — quis me referir a qualquer teoria como "a palavra divina da criação", muito pelo contrário! Meu ponto, como já tentei explicar em outras ocasiões, é que uma atitude dogmática nada tem a ver com o dogma em si e, portanto, é nela que residem vários dos problemas atribuídos às doutrinas. E atitudes não escolhem credo ou ausência dele. Só isso...
Mais uma vez, obrigado!