
É neste contexto histórico que se desenrola o romance "Quando Nietzsche Chorou" ("When Nietzsche Wept") de Irvin D. Yalom, psiquiatra e escritor estadunidense, lançado em 1992 e adaptado para filme homônimo em 2006. Yalom mistura fatos reais e elementos de ficção sem o menor pudor e conta a história de um encontro (fictício) entre Breuer e o filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900). O filme dirigido por Pinchas Perry, apesar de aparentemente não possuir a mesma densidade do romance, apresenta bons roteiro e cenário, garantindo a diversão daqueles que se interessam pelos interessantíssimos elementos da história, romanceada ou não.
O filme começa com um encontro entre o Dr. Josef Breuer (Bem Cross) e uma excêntrica senhorita da elite austríaca, Lou Salome (Kather Winnick), que lhe pede ajuda para tratar de um amigo, o filósofo Friedrich Nietzsche (Armand Assante) por cujo intelecto se apaixonara. Nietzsche, pobre e desconhecido, cujas tendências suicidas e enxaquecas haviam se agravado após a atribulada relação com Lou, passa a ser atendido por Breuer que tenta convencê-lo a continuar com o tratamento. Mas, percebendo seu desinteresse, Breuer pede ao filósofo para ajudá-lo a se livrar das próprias angústias e exasperações. No princípio, Nietzsche se recusa de forma categórica, alegando ser meramente um filósofo — não um médico, psicanalista ou psicólogo —, dizendo-se incapaz de resolver os próprios conflitos existenciais. Mas depois de alguma insistência, acaba concordando.
A partir daí, ambos se embrenham em uma pitoresca e cada vez mais profunda relação entre médico e paciente, onde os papeis se alternam constantemente. E Breuer, que inicialmente usara suas preocupações apenas como um artifício para convencer Nietzsche, também acaba sendo forçado a enfrentar seus próprios fantasmas, tal como o distanciamento de sua família surgido a partir de uma paixão reprimida por sua antiga paciente, Bertha (Michal Yannai). Com o tempo, as respectivas odisseias em busca do auto-conhecimento vão forjando uma sincera e salutar amizade entre os dois. Inicialmente um mero espectador, o jovem Freud (Jamie Elman) se encarrega da surpresa final com uma participação chave e decisiva.
E mesmo quem não se entusiasma, nem um pouco, com o que Nietzsche queria dizer com "amar desejar, mais do que amar o objeto de desejo", ainda assim, poderá se divertir com as representações dos pesadelos de Breuer, sem se preocupar com o que Freud diria sobre este "sádico" prazer de quem as estiver assistindo.
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