Além disso, há inúmeras outras funções não-motoras difíceis de serem melhoradas meramente pela repetição. É o caso, principalmente, daquelas que dependem de processos espontâneos, tal como a produção artística, por exemplo. Repetir o processo de criação pode aprimorar a velocidade com que se concretiza uma inspiração ou a eficácia de seus métodos e ferramentas, mas não o talento ou a criatividade do artista. Estes dependem, normalmente, da própria inspiração, algo muito além de uma simples atividade consciente que poderia ser repetida indefinidamente. Clarice Lispector, um dos grandes nomes da literatura brasileira, não se considerava uma escritora profissional, simplesmente porque seus textos dependiam de sua inspiração e, portanto, de algo independente de sua vontade.
Surge aí, um problema: como melhorar a qualidade da inspiração, talento ou criatividade? Justamente por acreditar que tais características sejam, mesmo, dons legados apenas a poucos indivíduos privilegiados da espécie humana, algumas pessoas acham que não precisam praticar nada, nunca. Mas, parece bastante óbvio, que a ausência de prática não resolve o problema tampouco. É relativamente fácil encontrar exemplos de pessoas absolutamente talentosas cuja concretização de sua obra é pífia, simplesmente porque não praticam o processo nunca. Imagine o que seria de um gênio como Mozart não tivesse treinado a leitura de partituras ou o manuseio de algum instrumento musical, pelo menos. Não por acaso, Thomas Alva Edison (1847-1931) chegou a afirmar que um gênio se compunha de 1% de inspiração e 99% de transpiração.
Dilemas à parte, exercitar coisas como a criatividade e a inspiração é uma atividade realmente complexa e, embora necessária, consome uma enormidade de recursos, inclusive parte do próprio talento. E talvez este texto seja um exemplo bastante claro disso...
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