quarta-feira, 19 de maio de 2010

"Coping"


Em 2002, uma psicóloga e um psicólogo, Débora D. Dell'Aglio e Cláudio S. Hutz, ambos ligados à Universidade Federal do Rio Grande do Sul, investigaram os processos de "coping" em crianças e adolescentes que frequentavam escolas públicas, estaduais e municipais, na periferia de Porto Alegre e Viamão. Em linhas gerais, entende-se por "coping" as estratégias utilizadas pelos indivíduos para lidar com situações de grande tensão que envolvam outras pessoas. A pesquisa sugere que este processo dependa mais da situação em que o indivíduo esteja envolvido do que das características pessoais de personalidade. O trabalho mostrou que o grupo com idades entre 11 e 15 anos (adolescentes) apresentavam maior tendência à evitação, aceitação e expressão emocional a situação envolvia adultos, porém, tendiam a agir agressivamente ou a buscar de apoio de alguém naquelas envolvendo outras crianças.

Os resultados são muito interessantes porque levantam indícios de que haja sensíveis dificuldades — pelo menos na amostra pesquisada — na interação entre crianças e adultos durante a busca por uma solução possível em um eventual conflito, seja porque predomine uma educação autoritária, tanto na família quanto nas instituições, seja porque as crianças avaliem como incontroláveis as situações envolvendo adultos. Já a tendência de agir agressivamente — mais frequente entre os adolescentes e segunda mais frequente entre as crianças —, quando envolvendo seus pares, pode ser atribuída à ideia equivocada de que seria a única maneira de resolver um conflito ou, simplesmente, a um modelo observado e aprendido ao longo da formação.

Os autores também mencionam outros estudos que demonstram a maior popularidade, na escola elementar, dos meninos percebidos como mais agressivos. Aqueles com sucesso acadêmico e sensíveis às necessidades dos demais, detinham menor popularidade e eram, frequentemente, rotulados de afeminados (Rodkin, Farmer, Perl e Acker, 2000 apud Dell'Aglio). Logo, as condutas violentas podem advir de uma tentativa de adaptação ao grupo ou de ascensão social. O curioso é que não foram encontradas diferenças significativas entre as estratégias escolhidas pelo grupo institucionalizado e pelo que mora com a família, ou seja, ambos os grupos lidavam com as situações de tensão de forma bastante similar.

Por fim, ao concluírem que o "coping" apresenta características de um processo mais situacional do que disposicional, os autores revelam uma possibilidade de intervenção por meio de ajustes no ambiente. Tal possibilidade é importante porque permite que se pense em alternativas para tentar diminuir a incidência de comportamentos agressivos, favorecendo o desenvolvimento de outros mais saudáveis ao convívio social.


Para saber mais: Dell'Aglio, D. D.; Hutz, C. S. Estratégias de coping de crianças e adolescentes em eventos estressantes com pares e com adultos. São Paulo: Psicologia USP, 2002. v. 13. n. 2.

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