sábado, 8 de maio de 2010

Nostalgia complicada!


Quem já teve a oportunidade de ler um artigo científico — desses que são publicados em revistas especializadas — deve ter percebido que, em geral, não são de muito fácil compreensão para quem não vivencia aquela área do conhecimento. Os motivos são vários: o uso intenso de jargões — conforme comentado em "Compreensões resilientes" —, a pressuposição de conhecimentos prévios indisponíveis no momento da leitura, o próprio desconforto de quem está lendo com relação àquela grande área da qual trata o assunto, entre muitos outros. Há quem se arrepie apenas em ouvir falar de "física"...

Mas, relativizadas as especificidades, a lógica matemática é tão necessária às humanidades quanto a metodologia humanística às ciências exatas. Um exemplo disso é o das ciências biológicas que — claro, além de suas próprias peculiaridades — reúnem ambos os perfis — de exatas e humanas — de forma bastante equilibrada. As áreas frequentemente se mesclam e, talvez por isso, tem havido uma certa tendência para o surgimento de cursos de graduação com um alto nível de interdisciplinaridade. Logo, seria de se esperar que já pudéssemos ler, confortavelmente, os trabalhos de pesquisa produzidos em qualquer ramo da ciência.

Geralmente, são os jornalistas quem têm a ingrata missão de transformar informações quase incompreensíveis em textos facilmente digeríveis por um grande número de pessoas. Às vezes são cientistas capazes de escrever de forma simples sobre assuntos bastante complexos que assumem esse papel. Em ambos os casos, no entanto, o tiro pode sair pela culatra. De vez em quando, um jornalista não consegue entender direito sobre o que está escrevendo e algumas confusões acabam surgindo nas matérias científicas por aí. Noutras vezes, é o cientista que no afã de simplificar os conceitos ao máximo, acaba por torná-los confusos até para quem é daquela área de estudo.

Em uma das primeiras edições de "Uma Breve História do Tempo", Stephen Hawking, por exemplo, escreveu sobre um certo valor cosmológico, referindo-se a ele como "...milhão de milhão de milhão...", algo difícil de compreender, especialmente para quem não tem fobia de números. Dizer que a constante de Avogrado (número de átomos, ou um mol, de carbono em 12 g da substância pura) equivale a, aproximadamente, seiscentas mil vezes um milhão de milhão de milhão parece mais complexo do que se referir ao número como 6·10²³, mesmo para quem é leigo em exatas. Afinal, se dez elevado ao cubo (3) é o mesmo que mil, dez elevado a vinte e três deve dar uma clara noção da dimensão desse número. Como diria um saudoso professor de química do cursinho, "se houvesse 1 mol de pessoas na Terra, haveria gente dependurada no planeta!".

Contudo, era um professor de diagramas de fases quem tinha a melhor dica para quando tiver de enfrentar algo muito complexo — no caso, em particular, ele se referia a diagramas de fases ternários ou quaternários. Segundo ele, a primeira atitude deveria ser o de "no panic!" (ou "sem pânico!"). Afinal, com um pouco de calma, tudo poderia ser reduzido a formas mais simples.

Mas complicar assuntos é tão mais fácil que simplificá-los, não?

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