quarta-feira, 12 de maio de 2010

A Razão e o Titanic


Tudo ia bem na viagem inaugural do maior transatlântico produzido pelo homem até o princípio do século XX. Em uma noite fria, aos 14 de abril de 1912, o Titanic flutuava rápido sobre as águas geladas do Atlântico, levando consigo gente de várias nacionalidades e de todos os gêneros, idades e classes sociais; eram, ao todo, 2207 pessoas confirmadas a bordo, entre passageiros e membros da tripulação (FREY, B. S.; SAVAGE, D. A.; TORGLER, B. Interaction of natural survival instincts and internalized social norms exploring the Titanic and Lusitania disasters. PNAS Early Edition, New York: 2010.). Mas o inesperado choque com um gigantesco iceberg dá início ao que seria uma das maiores e mais conhecidas catástrofes na história da navegação comercial de todo o mundo.

O acidente rompe boa parte do casco de forma fatal e todas as possíveis medidas de contenção já não mais evitariam o naufrágio da embarcação. Assim, cientes da gravidade da situação, os oficiais da tripulação passam a proceder com a evacuação do navio e, ao longo das duas horas e quarenta minutos de sobrevida do Titanic, as pessoas foram sendo, organizadamente, dispostas em botes salva-vidas, dando-se prioridade às mulheres, crianças e membros de mais alta classe social. Entretanto, como não havia disponibilidade para acomodação de todos os passageiros, a maioria sucumbe com o navio e, ao final do trágico episódio, era registrado o assustador número de 1517 vítimas fatais.

Não parece simples explicar como centenas de pessoas — aliás, a maioria — decidiram aderir a códigos sociais enquanto esperavam o inevitável enfrentamento da própria morte. Talvez, dentro de uma mesma família, não fosse difícil compreender a opção de um pai pela própria morte em troca da sobrevivência de sua esposa e filhos, mas encontrar decisões altruísticas dessa natureza entre pessoas sem vínculo afetivo, como muito provavelmente ocorreu no acidente com o Titanic, é, sem dúvida, algo que merece ser estudado com maior profundidade. A hipótese é que sem a intervenção racional da mente humana, a ordem social estabelecida após o acidente não poderia ter sido mantida e o salvamento prioritário de mulheres e crianças, certamente, não teria ocorrido.

Como avaliar a validade de tal proposição? Seria possível uma análise comparativa com outra situação similar?

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