O leitor, ou a leitora, já se perguntou por que o efeito de um determinado remédio ou tratamento é, às vezes, tão diferente entre duas pessoas? A resposta de que isto se deve ao fato das pessoas serem diferentes entre si pode não ser tão óbvia quanto parece, afinal, todo mundo toma os mesmos comprimidos contra dor de cabeça exatamente pelo mesmo motivo. Já imaginou se, para comprá-los, fosse necessário fazer um exame de DNA do paciente? Pois, guardadas as devidas proporções, é mais ou menos para isso que devem caminhar os tratamentos em um futuro não muito distante.
A farmacogenética estuda as diferenças na resposta ao uso de medicamentos causadas pelas variações genéticas que podem afetar o metabolismo — e, portanto, a eficácia e a toxicidade — das substâncias ativas na composição da droga. Diferenças alélicas em determinados genes podem alterar drasticamente a forma como o organismo processa tais substâncias (farmacocinética), alterando suas concentrações — logo, a ação das mesmas — ao longo do tratamento, ou, ainda, serem responsáveis pelas diferenças nos alvos posteriores da droga (farmacodinâmica), tais como os receptores, enzimas e vias metabólicas. Em suma, a depender da estrutura genética de um organismo, os medicamentos podem ser processados ou assimilados de formas diferentes daquela prevista para um tratamento bem sucedido.
O estudo da farmacogenética se dá pela identificação dos genes ligados às reações a uma determinada substância. Há, entretanto, um complicador que é a variabilidade étnica, ou seja, diferentes populações do planeta apresentando certas características em frequências distintas. Ao se ministrar isoniazida a pacientes com tuberculose, por exemplo, constatou-se diferentes respostas ao tratamento entre grupos de indivíduos. Alguns eram curados, outros não e outros, ainda, apresentavam severos efeitos colaterais devido a uma diferença alélica em um gene (da N-acetiltransferase), responsável pela significativa diferença na velocidade — e, portanto, na eficácia do tratamento — em que a droga era metabolizada pelo organismo. Posteriormente, verificou-se também que os indivíduos com processamento lento da droga eram mais comuns (mais da metade) entre as populações negra e branca, menos comuns nas asiáticas e raros entre os Inuit (Burroughts, 2002 apud Nussbaum).
Há, também, uma abordagem um pouco diferente que é a farmacogenômica. Nela, não apenas genes individuais, mas conjuntos de alelos são investigados para se identificar as causas genéticas comuns às diferentes respostas aos medicamentos. A personalização dos tratamentos, portanto, parece ser uma interessante tendência que ainda deve salvar muitas vidas e poupar muitas pessoas do sofrimento causado por efeitos colaterais. Como, infelizmente, tratam-se de procedimentos bastante caros, o sucesso da empreitada vai depender da viabilidade econômica, tanto na implementação quanto na pesquisa.
Mas quem sabe o gene dos conflitos na genética dos Estados não possa sofrer uma mutação, favorecendo ainda mais a pesquisa em saúde?
Para saber mais: Nussbaum, R. L. et al. Thompson & Thompson - Genética Médica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. p. 429-438.
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