terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Almoços Grátis


Para quem não viu, ontem noticiaram o caso de uma garota de 19 anos suspeita de tramar, junto com seu namorado, um assalto à própria mãe. Afortunadamente, a operação dos meliantes foi um sucesso de planejamento e nenhum tiro foi disparado. Também pudera, as gravações da polícia, autorizadas pela justiça, revelaram que o grupo contou com a ajuda "online" da jovem, indicando detalhes minuciosos da posição da vítima antes do crime. Mas, depois do caso "Suzana von Richthofen", a notícia nem causa mais tanto espanto assim. E o real problema é justamente este: ninguém se espanta com mais nada.

Claro que isto é uma generalização e como todas as generalizações, não serve para muita coisa. Talvez seja útil apenas para "acender uma luz de alerta", indicando que algo nos valores familiares parece não ir bem. Afinal, essas garotas não cresceram nas ruas, não passaram necessidades insuportáveis, tiveram amigos e familiares e alguém que as educasse. E dados os acontecimentos, há duas possibilidades mais gerais: ou elas são doentes — algo perfeitamente possível, já que o percentual de psicopatas que se acredita viver entre nós não é um número desprezível — ou faltou determinados valores em suas respectivas formações. No caso dos desfechos serem fruto de distúrbios psiquiátricos, não há muito o que se fazer para preveni-los. Já com relação à falta de valores, há muito o que se pode fazer, a começar pela própria vida em família.

Há algum tempo, durante uma conversa entre amigos, surgiu uma interessantíssima observação a respeito da criação dos filhos. O contexto era a falta de tempo e a inevitável necessidade que os pais modernos tinham de sair para ganhar o sustento da família. Antigamente, bem ou mal, havia uma certa divisão dos papéis familiares: o homem trabalhava fora, suprindo as necessidades da casa, e as mulheres trabalhavam em casa — principalmente, educando os filhos. Hoje, é muito comum ambos saírem para trabalhar, sem hora para voltar, e, mesmo assim, suprirem com dificuldade as necessidades financeiras da família. Às vezes, mesmo podendo viver modestamente, ainda continuarem com o mesmo estilo de vida objetivando ascenderem socialmente. E, como ainda não inventaram uma forma de se estar em dois lugares ao mesmo tempo, fazendo coisas diferentes, a educação das crianças — principalmente na fase de formação do caráter, idade em que mais precisam da companhia dos pais — acaba ficando comprometida.

Foi neste ínterim que um amigo fez a citada observação, dizendo que não era, necessariamente, a quantidade de bens materiais que determinava o quão amorosos e de boa índole seriam os filhos, mas, sim, o tempo que seus os pais dispensavam com eles. Se há algum fundamento científico nisto, só os cientistas sociais poderão dizer. Entretanto, a ideia de uma criança, crescida longe dos pais, tender a tratá-los com semelhante distância é por demais razoável e merece alguma atenção de quaisquer chefes de família.

E que ninguém o acuse de estar propalando a "pobreza material" cristã. Ao contrário, é apenas uma constatação leiga de que, não existindo milagres — ou almoços grátis —, não há como ser o primeiro em todas as áreas da vida ao mesmo tempo.



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