domingo, 10 de janeiro de 2010

Dogmas Subliminares


Se segunda-feira, o governo decretasse que você teria direito a receber seu salário sem trabalhar, o que você faria? Pararia de fazer o que faz todos os dias ou continuaria a fazê-lo por "hobby"? Mudaria de atividade? Buscaria um serviço voluntário? Ficaria mais com a família? Viajaria?

Imagine uma sociedade — absolutamente utópica, claro — na qual as pessoas pudessem exercer as atividades que mais gostassem, sem que houvesse qualquer vínculo entre o exercício das mesmas e as respectivas remunerações. Médicos clinicariam pelo prazer de restabelecer a saúde de seus pacientes. Professores ensinariam pelo prazer de transmitir seus conhecimentos de forma efetiva a seus pupilos. Faxineiros asseariam os ambientes pelo prazer de ver os usuários se sentido bem. Advogados advogariam pela justiça. Políticos serviriam à população...

Dificílimo de imaginar, não? Até um um mundo totalmente estranho, cheio de seres bizarros, seria mais fácil de ser visualizado em nossa tela mental. Esta tensão entre o real e o imaginário, no que tange certas convenções sociais, não ocorre por acaso, mas sim porque, às vezes, é muito difícil encontrar justificativas, racionais e consistentes, para manter determinadas ideias apenas no plano do impossível. Deve ter sido assim para os escravos, antes de começarem a surgir os primeiros ideais abolicionistas, ou para as mulheres do início do século XIX, quando os brinquedos infantis objetivavam ensiná-las a serem boas donas-de-casa.

Atualmente, a escolha do próprio trabalho, que deveria ser exclusivamente pela vocação, por vezes é feita com base na remuneração e/ou no "status" social que a profissão pode proporcionar, gerando uma legião de profissionais insatisfeitos. E esta insatisfação, às vezes, chega a tal ponto que alguns sentem até uma certa inveja quando um migrante, sobrevivendo miseravelmente na maior cidade da América Latina, resolve largar seu sub-emprego e voltar para sua terra natal, vivendo, talvez, tão miseravelmente quanto antes, mas com toda família ao seu redor e sob patrocínio de algum benefício social do governo. Sim, inveja porque ninguém deseja o mesmo destino que o migrante terá, mas, apenas que ele permaneça ali, exatamente, onde estava antes de aparecer aquela alternativa.

E se algo assim acontece de verdade, há duas formas de se compreender o ocorrido. A primeira é achar que a assistência social do governo anda pagando bem demais e a segunda, que alguns empregos pagam mal demais. Qual é a sua opinião?

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