Convenhamos, os problemas dos outros, geralmente, parecem-nos bem mais simples de resolver. Bastaria que fulano comesse menos, que beltrano deixasse de ir àquela nova igreja e que sicrano parasse de jogar dinheiro fora... Uma ação aqui, um jeito ali, uma decisão acolá e pronto, tudo resolvido! E por vezes ainda ficamos intrigados, imaginando os porquês de nosso aconselhado não conseguir se livrar logo de sua incômoda situação.
Os problemas dos outros nos incitam a resolvê-los e isso, de certa forma, é bom. É como se despertássemos um nosso lado altruísta, por vezes sonolento, dando-lhe uma utilidade real. A aparente facilidade em se solucionar os imbróglios de outrem, entretanto, advém de uma certa ausência de responsabilidade com os resultados. Obviamente que isto não significa más intenções ou desdém de quem aconselha. Significa apenas que, por não estar diretamente implicado, ou implicada, pelas consequências, o que está de fora pode se ocupar apenas com a solução do problema, sem a inevitável pressão do instante seguinte ou dos sofrimentos resultantes de cada movimento do outro. Além disso, a responsabilidade jamais poderá ser atribuída totalmente à quem está de fora da situação, uma vez que esta pessoa nunca terá acesso a absolutamente todas as variáveis envolvidas no problema em questão, por mais minuciosa que seja.
Não bastasse tudo isso, como os passados, as estruturas psicológicas, os níveis de preparação e compreensão variam de indivíduo para indivíduo, algo que parece absolutamente trivial para um pode ser o desafio de uma vida inteira para outro. Algo, inclusive, já absorvido pela sabedoria popular na essência do célebre ditado: "Falar é fácil. Difícil é fazer.". Mas muitos opinantes de plantão, sem consciência disso, não tomam cuidado com o que dizem àquele ou àquela a quem desejam ajudar, causado neles danos, às vezes, irremediáveis.
A dificuldade surge quando os problemas a serem resolvidos são os da própria pessoa, implicando na assunção das responsabilidades e dos riscos inerentes a cada ato. Por isso que, às vezes, quando colocadas frente a frente com as próprias limitações, muitas gente trava, anda em círculo ou surta. Também são formas sutis de se esquivarem da responsabilidade sobre o destino de suas próprias vidas. Afinal de contas, nessas condições, a responsabilidade pelo resultado final — mesmo que evidente, principalmente para alguém de fora — passa a ser da situação e não mais dela — que se torna vítima.
Assim, de algum modo, pode-se dizer que o desejo de resolver os problemas dos outros, acabou se tornando uma forma de redenção pela culpa de não superar as próprias limitações. E isto, talvez, explique a curiosa fascinação pelas telenovelas e "reality shows" de muitos milhares de telespectadores televisivos. Para que sofrer de verdade se é possível viver várias vidas de forma indolor e colorida?
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