Um dia você vai ao banco e o gerente, sorridente e afável, pergunta-lhe se você deseja a última novidade em proteção contra bandidos. Sem hesitar, mais do que depressa, você aceita o que lhe oferecem. O homem diz se tratar apenas de um emplastro, muito simples, que deveria ser colado à sua pele. Sem muitas perguntas, já que o banco exigia seu uso para acessar o interior de suas agências, você prende o adesivo em alguma parte escondida do corpo e vai para casa. E eis que, de fato, nenhum mal lhe acomete depois disso, se bem que nunca lhe ocorrera nada assim, afinal você já tomava todas as precauções necessárias para evitar tais dissabores.
Passado algum tempo, você nem se lembra mais que, em um dia, o gerente do banco lhe dera um emplastro para usar. Suas preocupações se voltam para problemas mais imediatos, como uma inusitada sensação de cansaço antes de terminar o dia. Parece que algo vem lhe sugando parte das forças, mas de forma tão sutil que você é incapaz de apontar a causa objetivamente. Começa, então, a tomar vitaminas, fazer exercícios mais regularmente, fazer exames com mais frequência, mas nada aparece como causa daquele incômodo. Sem muitas esperanças de resolver o problema, apela até para o sobrenatural, indo a sessões de descarrego, ouvindo e fazendo as mais diversas simpatias, ao mesmo tempo que aguente os comentários, por vezes irônicos, de familiares, amigos e conhecidos. Entretanto, nada, o esgotamento só aumenta...
Até que, em um final de tarde, alguém lhe dá um esbarrão, ocasionando sua queda e a fratura de seu fêmur. Nada que um bom gesso e uns dias de molho não resolvam. Só que, assim que tira o gesso, escorrega e quebra a tíbia, ficando mais uns dias de cama e gastando o que não recebeu. Logo a tíbia sara, mas ao descer as escadas do hospital, sente uma tontura e despenca lá de cima... À essa altura, você já encomendou a viagem de um padre do Vaticano para vir lhe exorcizar, vem tomando todas as medicações e vitaminas possíveis e tem pesquisado toda a internet em busca de um meio para se transferir para outro corpo.
Já quase sem perspectivas, observa, por mero acaso, algo estranho em suas costas, revelado por uma das ressonâncias magnéticas que fez há pouco. Corre até o espelho para verificar e, pouco abaixo da linha da cintura, redescobre o emplastro esquecido daquele gerente do banco. E, em uma louca associação de ideias, pensa que, talvez, o emplastro pudesse ser o causador de tudo aquilo e corre para o Google para saber se você não pirou de vez. A pesquisa, no entanto, é reveladora: aquele emplastro, para protegê-lo contra assaltos, consume uma pequena parte de sua vitalidade, ininterruptamente.
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