sábado, 30 de janeiro de 2010

Eles sabem o que é melhor para a gente III


O nome do emplastro:  G-Buster Browser Defense
O nome dos criadores: GAS Tecnologia
O nome do banco:      Banco do Brasil S/A


Apesar da liguagem figurada, a história contada não é de todo ficção, senão uma dura realidade ética deste país. Tudo começa com uma tela azul (decorrente de um erro fatal de sistema) do Windows XP, logo após uma queda da rede elétrica. A primeira providência foi verificar a integridade dos dados no disco rígido através do "Scandisk" e eis que surge o primeiro sinal de anormalidade: após a verificação, sem acusar qualquer problema no disco, o sistema reinicia com um "erro de hardware desconhecido" ("Unknown hardware error"). Como se tratava de um equipamento já com uns bons anos de uso, o nível de preocupação, naturalmente, começa a aumentar. Na primeira tentativa de restabelecer o sistema, outra tela azul e o desespero já toma providências para que se anote os incompreensíveis códigos de depuração da memória da máquina.

Principia-se, então, uma longa (semanas) e exaustiva investigação das várias estranhezas que o sistema passara a apresentar, cada qual com suas minúcias, requerendo estudos específicos sobre o que e como fazer, tais como o arquivo de paginação que se recusava a ficar com o tamanho especificado, a desinstalação de programas suspeitos de estarem causando o problema, a instalação de outros programas para detecção da falha, etc. Até que, subitamente, durante um dos acompanhamentos da memória, desempenho e processos do computador, algo, até então desconhecido, é notado: um estranho serviço (ou, em linguagem leiga, um programa rodando no sistema operacional) e alguns processos, ligados a ele, que, apesar de transparentes ao usuário, consumiam quase a totalidade dos recursos de processamento nos momentos que precediam a tão apavorante tela azul.

A primeira providência, claro, foi terminar com o serviço, mas logo em seguida, lá estava ele novamente, funcionando firme e forte. A segunda, foi ir até o painel de controle do sistema para remover o programa da máquina. Outra surpresa: ele não aparecia na lista de instalação.

Começava, então, uma segunda jornada, tão custosa e ainda mais dolorosa do que a primeira: descobrir o que era aquilo e como eliminá-lo da máquina. Muitas pesquisas depois, surgem as primeiras pistas: o emplastro, melhor dizendo, o G-Buster Browser Defense é um programa de "proteção" para os navegadores da máquina. Disto decorria uma pergunta natural: como é que ele havia parado lá sem que o administrador de sistema o tivesse instalado? O leitor, provavelmente, já deve ter advinhado a resposta: através de um módulo de segurança do Banco do Brasil.

Aquele programa, furtivo e persistente como um virus, fora instalado sem prévio aviso — a página do banco solicita permissão para instalar o módulo de segurança, dando a entender que se trata de uma simples biblioteca de criptografia, sem qualquer alerta específico sobre o funcionamento ininterrupto de um programa — na máquina de um usuário comum de serviços bancários e sem fornecer qualquer opção de remoção para o dono do microcomputador. Aliás, o pateta do usuário sequer desconfia que exista um "cavalo-de-tróia" ("do bem", segundo alguns!) em sua máquina, rodando incessantemente, embaralhando dados do registro de seu sistema operacional, consumindo recursos preciosos de processamento e enviando informações pela internet, sabe-se lá para quem e para qual finalidade.

Mas, como disse um dos defensores da "inovadora tecnologia" em um comentário deixado em um "blog" que explicava o funcionamento do programa, aquilo serve para proteger as pessoas comuns dos "bandidos" virtuais, deixando subentendido que eles sabem o que é melhor para a gente.


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