Em outubro do ano passado, duas reportagens no caderno Ciências do jornal Folha de São Paulo, 13/10/2009, chamavam a atenção não só pelo interessante conteúdo, mas também por algumas peculiaridades das notícias.
A primeira falava da descoberta, por um britânico, do fóssil de uma nova espécie de pterossauro, Tupuxuara deliradamus, que habitava a região de Santana do Cariri, Sul do Ceará, há mais de cem milhões de anos atrás. Um detalhe, aparentemente sem importância, é que o nome da nova espécie, deliradamus, foi dado pelo palenteólogo, Mark Witton, que descreveu o bicho, como uma homenagem ao grupo de rock progressivo Pink Floyd — deliradamus, em latim, faz referência a "diamante louco", parte do nome da canção "Shine on you crazy diamond" do grupo.
A outra era sobre uma aranha, Bagheera Kiplingi, que parece se alimentar, basicamente, dos pontos açucarados produzidos por uma planta chamada acácia. Apenas de vez em quando, a aranha deixa sua dieta vegetariana para saborear larvas de uma formiga que habita a mesma planta de forma simbiótica — a acácia alimenta as formigas com os pontos açucarados e elas defendem a planta de outros herbívoros. O detalhe, também aparentemente desimportante, é que os seres vivos citados são naturais do México e da Costa Rica, bem distantes da Universidade do Arizona, EUA, onde trabalha o pesquisador, Chris Meehan, responsável pela publicação.
Mas caso ainda não tenha percebido a peculiaridade em ambos os casos, aí vai: os objetos de estudo estão bem longe de seus países de origem, nas mãos de pesquisadores estrangeiros. No segundo caso, pelo menos, a reportagem informa que o doutorando está aguardando autorização para importar os espécimes e, assim, aprofundar seus estudos em laboratório. O mais aterrorizante é que no primeiro caso, o brasileiro, o mesmo não acontece. O pesquisador, neste caso, disse, inclusive, que "seria possível" trabalhar "em conjunto com os cientistas do país de origem do fóssil". É bom nem perguntar como esse material chegou lá...
Para quem não sabe, o Brasil tem uma legislação específica no que se refere à saída não autorizada desse tipo de material do país: é crime e dá cadeia. Inclusive, em meados do ano passado, três pesquisadores estadunidenses e dois brasileiros foram presos em Corumbá por estarem extraindo sedimentos das lagoas do Pantanal sem autorização — a parte absurda da história é que os brasileiros eram estudantes de uma universidade pública paulista e que tinha ciência do trabalho.
Mas a despeito da pirataria que, obviamente, conta com a ajuda de "brasileiros", o fato é que nenhum país, principalmente do dito "primeiro mundo", mexe uma palha sequer para que isto não aconteça lá, bem debaixo de seus próprios narizes. Há inúmeros casos de produtos brasileiros patenteados por pesquisadores estrangeiros sem qualquer questionamento governamental ou das instituições de patente. E experimente quebrar qualquer uma destas patentes por aqui ou patentear algo típico de outro país para ver o tamanho da confusão que isto vai dar...
Será que Einstein imaginou que a relatividade poderia ser aplicada até na ética?!
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