quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A teoria na prática


Há aspectos fascinantes na engenharia que frequentemente passam absolutamente despercebidos a quem não é da área. Algumas vezes são apenas curiosidades que qualquer aluno, minimamente interessado nas maçantes aulas de física do colegial, saberia, não fosse o desinteresse em unir a teoria à prática manifestado por alguns professores. Não há dúvidas de que é muito mais fácil reter conceitos, mesmo os mais abstratos, se fosse mostrada, pelo menos, alguma situação na vida em que aquele conhecimento fosse útil.

É o caso do atrito, por exemplo. Quem apertar a memória aí vai se lembrar da fórmula usada para se calcular a força de atrito de um corpo sobre uma superfície rugosa: Fat=µ·N, sendo Fat a força de atrito em Newton, µ o coeficiente de atrito (sem unidade) e N a força normal à superfície também em Newton. Sem problemas, certo? Acontece que o coeficiente de atrito muda se o corpo estiver em movimento (dinâmico, µd) ou parado (estático, µe), sendo que o coeficiente de atrito estático é sempre maior que o dinâmico (µe>µd).

E se você não for da área de exatas e, ainda assim, leu o texto até aqui, já deve estar se perguntando para que "diabos" serve isso, a não ser para um bando de engenheiros — ou físicos, ou matemáticos, etc. — "nerds", não? Serve, por exemplo, para você não gritar quando estiver ao lado de alguém que esteja dirigindo, já que, se o motorista brecar de repente e travar as rodas do veículo, o carro demorará bem mais para parar, aumentando a probabilidade e a gravidade de um acidente de trânsito. Ou para entender o porquê do seu companheiro, ou companheira, preferir torrar mais de R$ 2000,00 colocando como opcional um sistema de freios ABS (sigla para "Antiblockier-Bremssystem" ou "Anti-lock Braking System", sistema de frenagem anti-travamento) ao invés de um jogo de rodas de liga-leve. Ou para saber que, se um piso é escorregadio, você deve andar o mais devagar possível. Enfim, para uma infinidade de coisas absolutamente práticas.

Mas um efeito muito mais sutil do atrito, entretanto, é o desperdício de energia. Um carro, por exemplo, gasta boa parte do combustível superando o atrito com o ar, com o chão e, principalmente, entre as partes móveis internas de sua mecânica. Estima-se que o custo econômico da perda de energia gerada pelo atrito, só nos EUA, ultrapasse os US$ 100 bilhões anuais. O uso de tecnologias mais eficientes, envolvendo os mais recentes dispositivos tribológicos (a tribologia estuda a interação entre superfícies), poderia liberar quantias significativas para serem usadas em áreas carentes de recursos financeiros ou, então, para financiar novas pesquisas. Some-se aos custos diretos do consumo de energia, os custos do tempo gasto em manutenção, das peças de reposição, das horas de máquinas paradas devido a falhas, etc., e você terá uma vaga noção do tamanho do problema. Sem mencionar que a economia de recursos naturais e combustíveis também faria um bem enorme ao meio-ambiente.

E pensar que aquele coeficiente mixo, mal ensinado no colegial, era tão importante assim...

Nenhum comentário:

Postar um comentário