terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A ciência e a religião


De vez em quando, um cientista ou outro se debate com as visões religiosas sectárias de algumas pessoas, principalmente quando publica suas ideias em algum grande veículo de comunicação. Conflitos desse tipo vêm de longa data mas, como sempre, nascem de uma certa confusão gerada por conceitos mal esclarecidos, principalmente no que diz respeito à religião e à ciência. A primeira trata das convicções filosóficas de cada um, é metafísica, transcendendo o observável. A segunda, observa fenômenos e tenta explicar o funcionamento do universo em que existimos. Mas se uma não interfere — ou não deveria interferir — na outra, por que há tanta confusão?

Acontece que a fé religiosa nada tem a ver com a ciência, mas a fé na ciência tem tudo a ver com a religião. Esclarecendo o trocadilho, não são os conteúdos, mas os comportamentos, com relação ao que se acredita, que geram tantos mal entendidos entre crentes e descrentes. Infelizmente, ainda há cientistas absolutamente certos de que religiosos não pensam, não são lógicos ou não usam a razão. Assim como ainda há religiosos que enxergam os cientistas como a encarnação do próprio mal. Mas, por incrível que pareça, existem religiosos que pensam e cientistas tementes a Deus.

Quando se diz que os religiosos não possuem atitude crítica com relação a certos fenômenos, enquanto que os cientistas, pela própria natureza da atividade, costumam ser questionadores e prontos para mudar tudo o que pensam tão logo uma nova teoria se mostre consistente, trata-se apenas uma generalização. E aí começa o problema, já que as generalizações, apesar de não serem mentiras, também não são verdades. Existir padrões de comportamento comuns a um determinado agrupamento humano não significa, necessariamente, que todos os elementos daquele grupo possuam as mesmas características.

Se alguém tem certeza de que Deus existe e sente-se feliz por seguir os preceitos de sua religião ou, então, tem certeza de que Deus não existe e sente-se feliz por não seguir preceito religioso algum, tudo fica ótimo. A coisa começa a ficar péssima a partir do momento em que um tenta impor seu o ponto de vista ao outro. E esta atitude é comum tanto em fánaticos religiosos quanto em cientistas fanáticos. Claro que isto não significa que não se possa expor o próprio ponto de vista e os motivos pelos quais é levado a pensar daquela forma, nem, tampouco, que não se deva cobrar, do outro, atitudes dignas para com um terceiro. Significa, simplesmente, que a crença da pessoa nada tem a ver com seu comportamento, já que há outros tantos que acreditam na mesma coisa e agem de forma totalmente diferente.

Um caso típico são certas posições assumidas por algumas instituições religiosas que, às vezes, causam mais prejuízos que benefícios às pessoas. Estas posições podem e devem ser criticadas e até combatidas, conforme o caso. Mas isto — correndo o risco de se tornar repetitivo — nada tem a ver com as crenças dos seguidores daquela instituição. Condenar a fé de alguém por causa de uma posição da instituição religiosa ou do comportamento de alguns de seus pares é tão absurdo quanto condenar a ciência por ter produzido a bomba atômica. Sem mencionar o fato de que tanto a religião quanto a ciência são criações do mesmo ser humano, estando, portanto, sujeitas a todas as nossas imperfeições humanas.

Mas, independentemente se você é um fiel seguidor da religião ou da ciência, saiba que há um deus que sempre poderá adorar chamado Respeito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário