quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Francamente...


Hoje, estava eu, cá com meus botões, refletindo sobre algumas atitudes que (alguns de) nós, seres humanos, temos em nosso convívio social. As atitudes em questão são aquelas, aparentemente contraditórias, tomadas tão naturalmente que, por vezes, sequer as percebemos se manifestarem. Coisas como o "falar mal" de outras pessoas, por exemplo.

Se você prestar atenção clínica a uma conversa qualquer, quase sempre vai notar alguém reclamando das atitudes, ideias, ações, opiniões, conceitos, opções, sonhos, ideais, etc., de uma terceira pessoa. "É batata!" — como se diz por aí. Fala-se da burrice de um atendente, do sadismo de um chefe, da injustiça de um familiar, da inocência de uma amiga, enfim, um espectro tão diversificado de observações quanto maior for o alcance das relações pessoais do interlocutor.

Mas até aí, nenhuma grande novidade. Talvez você, inclusive, já esteja pensando: "Ah, mas e daí? Todo mundo fala mal de todo mundo o tempo todo. A vida é assim...". Só que o detalhe está, justamente, na contradição estabelecida por outra atitude irmã, igualmente comum. Note que a mesma pessoa que "fala mal" de uma terceira, raramente — para não usar "nunca" —, expõe seu ponto de vista explicitamente ao alvo de suas críticas. Em outras palavras, não somos francos — e, por favor, não confunda franqueza com falta de educação.

Ninguém, ou quase, explica para o atendente burro, de uma forma que ele possa entender, o que ele deveria fazer para não repetir aquela burrice. E nem expõe ao chefe sádico que as decisões da chefia andam minguando o desempenho da equipe. Também não se diz ao familiar que ele está sendo injusto por causa desta ou daquela razão. Tampouco orientam a amiga inocente a, simplesmente, preparar-se caso o pior aconteça. Mas todos, ou quase, comentam estes casos com outros de seu convívio, como uma forma sombria de fazer brilhar a própria superioridade.

Resultado: mesmo que o criticado, ou a criticada, seja alguém legal, afeito ao desenvolvimento pessoal e até preocupado com as outras pessoas, se ele, ou ela, não chegar a conclusão de que precisa mudar algo por si só — adivinhando, muitas vezes —, estará condenado à condição em que se encontra para o resto de sua existência terrena.

Há o outro lado também, como aquele, ou aquela, que chega para o atendente e diz: "Meu filho, você é uma porta!". Ou, para o chefe: "Quer o chicote novo pra agora?". Ou, para o familiar: "Certamente lhe trocaram na maternidade!". Ou, para a amiga: "Pelo visto você ainda acredita em papai-noel e no príncipe encantado, né?". Nada disso ajuda... Além de mal-educado, é apenas outra forma de se mostrar superior ao outro.

A franqueza genuína reside sobre um equilíbrio tão sutil que seus raríssimos detentores deveriam ser protegidos como o patrimônio mais importante da humanidade. Sem estes anjos, desenvolver-se como pessoa seria muito mais difícil do que já é.



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