Se há alguma coisa que os estadunidenses fazem melhor do que todo mundo são suas pesquisas estatísticas. Bom, melhor dizendo, provavelmente até exista quem as faça melhor, mas, definitivamente, não com a mesma frequência nem com a mesma variedade de temas. Levantamento de quase tudo e em quase todas as áreas são realizados e, muitas vezes, servem como base para tomadas de decisões importantes. Mas qualquer um que tenha um mínimo de conhecimento estatístico sabe que se pode encontrar "relações" entre conjuntos de valores absolutamente independentes entre si. Isto é potencialmente perigoso, em especial quando o trabalho não pode ser repetido facilmente e, mesmo assim, deve servir de apoio para decisões sobre ações futuras.
E é justamente a interpretação do trabalho e suas implicações os maiores problemas das pesquisas estatísticas. Na década de 1930, Pitigrilli, um humorista italiano, já alertava que a estatística era "a ciência que diz que se eu comi um frango e você não comeu nenhum, teremos comido, em média, meio frango cada um". Claro que, hoje, há inúmeros cuidados para que os números reflitam a realidade da forma mais fidedigna possível, mas a perfeição é uma utopia.
Um recente estudo nos EUA ilustra com maestria esses problemas. Pesquisadores concluíram que, para se evitar uma gravidez precoce entre jovens e adolescentes, apenas pregar a abstinência sexual nas escolas é mais efetivo do que, simplesmente, prover educação sexual. A questão apareceu na mídia com o "status" de uma eventual "virada-de-mesa" nos atuais moldes educacionais do país. Ortodoxos e liberais se apressaram em defender e condenar o trabalho, respectivamente. E, com um pouco de esforço, até daria para enxergar um risinho de satisfação na boca dos educadores católicos daquele país. Paralelamente às questões éticas envolvidas, claro, está também a alocação de verbas federais para os programas educacionais de "abstinência sexual", que já haviam sofrido cortes da ordem de US$ 170 milhões no primeiros meses da administração Obama, e de "educação sexual" para jovens e adolescentes.
Por mais esquisito que isto possa parecer, pouca gente, entretanto, questionou os elementos que compõem o estudo, tais como os métodos utilizados, a reprodutibilidade, a adequação do modelo à realidade e uma série de outras coisas que, apesar de neutras, são muito mais relevantes para o objetivo final que é, simplesmente, evitar uma gravidez precoce e indesejável na adolescência, bem como uma série de efeitos colaterais, tais como doenças sexualmente transmissíveis. Mas andamos, talvez, tão preocupados com os próprios pontos de vista, sobre o que é certo ou errado, que até nos esquecemos do pragmatismo que moldou nossa racionalidade ao longo de milhares de anos.
E se o estudo estiver equivocado, refletindo apenas uma pequena amostra do universo pesquisado? E se estiver correto, não deveria ser considerado? E por que não combinar os dois tipos de programa educacional? Não é um espanto, também, descobrir que a arrogância e o preconceito não apresentam uma boa correlação estatística com "patentes" sociais e níveis de inteligência?

Simples, não?!
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