E por falar em instituições, pode-se dizer que sem a solidez e a credibilidade destas, não há como conceber uma sociedade nos moldes atuais. São as instituições científicas, religiosas, políticas, jurídicas, policiais, civis, entre várias outras, que estruturam toda a civilização moderna, fornecendo aos indivíduos as referências necessárias para seus próprios julgamentos éticos. Por isso, não há nada pior para uma instituição — e para sociedade a qual pertence — do que cair no descrédito da opinião pública, algo que, fatalmente, ocorre quando não cumpre o papel que se espera dela. E, justamente por serem referências, é que se espera das instituições atitudes e posicionamentos exemplares, não só em relação aos outros mas, principalmente, em relação a si mesmas.
Infelizmente, como toda criação humana, as instituições também estão sujeitas a muitas falhas e limitações. Entretanto, não são estas, propriamente ditas, que comprometem a credibilidade de uma instituição, senão o não-reconhecimento desses equívocos. Ao se reconhecer um erro, abre-se a possibilidade de remediá-lo ou, pelo menos, de se tomar as providências necessárias para que outros, de mesma natureza, não se repitam. Esta atitude de humildade, referência da grandiosidade humana, é uma virtude relativamente rara nas instituições e por um motivo muito simples: também é rara nos seres humanos.
Em 22 de julho de 2005, uma das mais famosas instituições policiais, a Scotland Yard, assassinou, por engano, com sete tiros na cabeça, o brasileiro Jean Charles de Menezes, 27 anos, depois de confundi-lo com um procurado terrorista etíope, Hussain Osman, na estação de Stockwell em Londres. O caso ganhou repercussão por aqui porque Jean era brasileiro, mas a fatalidade poderia ter ocorrido com qualquer outra pessoa de qualquer outra nacionalidade.
A questão é que a instituição de Vossa Majestade não só se esquivou da responsabilidade pelo ocorrido, como ainda jogou a culpa em Jean por ter fugido quando viu os policiais. Fugiu, talvez, por achar que uma instituição policial de referência internacional não tentaria pará-lo com sete tiros na cabeça. No máximo alguns tiros nas pernas ou nos braços, já que o lógico seria um terrorista suicida, já dentro de uma estação de metrô e próximo dos policiais, tentasse se explodir e não fugir.
E para quem acha que "pizza" costuma ser uma especialidade brasileira (afinal, no Brasil, não é tão raro alguém ser fuzilado por alguma autoridade, mesmo sem ser suspeito de terrorismo, e nada acontecer com o responsável), saiba que lá, como cá, tudo terminou em uma bela rodada de "pizzas" institucionais: a Suprema Corte declarou "veredicto aberto", impossibilitando qualquer condenação criminal dos responsáveis, a família de Jean teve de engolir uma indenização à brasileira (que, segundo a Folha de São Paulo de 24/11/2009, não deve chegar a R$ 300 mil) e a comandante da operação, Cressida Dick, 47 anos, ainda recebeu uma condecoração real pelos serviços prestados na polícia britânica.
E quando instituições tão diferentes apresentam desfechos tão semelhantes, é de se suspeitar que, sobre todas as diferenças, o problema é o que há em comum entre elas, ou seja, o ser humano. E, portanto, tanto lá, quanto cá, as instituições devem ir melhorando à medida que nós também formos melhorando. Nunca o contrário...
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