sábado, 27 de fevereiro de 2010

Filosofia dos mitos


Cronos, Zeus, Hera, Ares, Atena, Poseidon, Afrodite, Teseu, Hércules, Perseu... A mitologia grega é formada por uma miríade de deuses, semideuses e heróis que, envolvendo-se com os seres humanos, deram origem a uma série de mitos, lendas e "relatos maravilhosos" que influenciam toda história ocidental até os dias de hoje. Como o próprio nome indica, a mitologia — distinta do saber filosófico que procura compreender o mundo por princípios lógicos e racionais — busca explicar as verdades universais através dos mitos. Nestes, acredita-se ou não, segundo a própria vontade.

Na filosofia, por outro lado, lança-se mão da racionalidade humana para buscar explicações sobre como o mundo funciona. A própria origem da palavra, junção dos termos gregos philos ("que ama") e sophia ("sabedoria"), já denunciava a vocação da filosofia ("que ama a sabedoria") para a investigação e ampliação do saber racional. E dela, vários ramos da ciência se desenvolveram — matemática, astronomia, biologia, ética, etc. — buscando abranger toda a realidade experimentada pelos seres humanos. E foram justamente os grandes filósofos gregos que estabeleceram os alicerces de todo o pensamento moderno ocidental.

Mas ao contrário do que possa parecer à primeira vista, a filosofia não decretou o desaparecimento da mitologia que conviveu em perfeita harmonia com os genitores do pensamento racional ao longo dos séculos. Quem nunca, por exemplo, ouviu falar sobre o complexo de Édipo, tão propalado pelo fundador da psicanálise Sigmund Schlomo Freud (1856-1939) mais de dois milênios depois? Ainda hoje, aliás, a mitologia é usada como uma forma de se compreender nuances do saber humano que não podem ser satisfatoriamente representados apenas pela racionalidade. Segundo Pierre Grimal (Grimal apud Cotrim, 1989), a mitologia "atrai em torno de si toda parcela do irracional existente no pensamento humano; por sua própria natureza, é aparentado à arte, em todas suas criações". É, portanto, uma ferramenta capaz de atingir níveis profundos de nosso inconsciente, algo tão importante quanto a racionalidade, na busca por uma descrição fiel da realidade em que estamos imersos.

Não seria por acaso que, Platão (427-347 a.C.), um dos maiores nomes da filosofia grega, pensava que, sendo a alma parte humana e parte divina, deveria se relacionar com tudo o que é e não apenas uma dessas partes.

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