sábado, 20 de fevereiro de 2010

Soprando...


Contava a anedota que o cidadão havia empenhado as economias de toda uma vida na compra do carro de seus sonhos. Desses, mais modernos, que, a despeito de toda a tecnologia embarcada, mantêm todo apelo de um clássico automobilístico. Saiu radiante da concessionária, mas sua alegria durou o tempo do percurso de alguns quarteirões. Em um cruzamento, outro veículo não parou e acabou colidindo com a lateral de seu carro zero, amassando a porta do passageiro. Desceu do carro em um misto de pânico e fúria, olhou para o estrago e tudo que conseguiu foi pôr-se a chorar, lamentando todo sacrifício que havia feito para adquirir aquele bem.

O outro motorista, que havia avançado o sinal (farol para nós paulistas), pensou logo em uma solução para se safar o mais rápido possível da situação, já receando juntar muita gente por causa do choro desconsolado daquele homem sentado na sarjeta. Foi até ele, pousou uma das mãos em seu ombro e desatou a falar:

— Calma, homem, calma! Por que tamanho desespero!

— Não acredito... A economia de uma vida!

— Ei, fique tranquilo! O carro é novo, não?! Você só precisa assoprar no escapamento que a porta desamassa!

— Quê?! Tá louco?!

— É, ué... O carro é novo, não?!

— Sim.

— Você acabou de tirá-lo da concessionária, certo?

— É.

— Então... Assopre ali no escapamento que a porta desamassa num instante. Esses modelos novos já vêm com a mais recente tecnologia de manutenção. Vai lá, tente! Não precisa se preocupar... Mas eu preciso ir porque estou atrasado... Tchau!

E o infrator, que já ia entrando no carro, sumiu. Enquanto isso, o homem, ainda meio atordoado, pôs sua fé a prova e foi para trás do seu novíssimo modelo abalroado e começou a assoprar no cano do escapamento. Logo um outro cidadão parou e, prestativo, quis ajudar. Perguntou para o desconsolado motorista, deitado atrás do carro, se ele precisava de ajuda, no que ouviu, como resposta, toda a história do ocorrido e a explicação do porquê ele insistia em soprar no cano do escapamento. O que queria ajudar começou a rir:

— Ah... Você deve estar de brincadeira! Acha realmente que vai conseguir desamassar o carro assim?

— Bom, foi o que o outro motorista disse. Por que? Você acha que não funciona?

— Lógico que não funciona! Veja, a porta do motorista está aberta! Como é que você vai encher para desamassar?!


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