Você também já deve ter ouvido justificativas de ações equivocadas que se baseiam em absurdos éticos do tipo: "ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão". Antes de mais nada e correndo o risco de ser demasiadamente preciosista, há a necessidade de uma explicação: talvez isto seja algo aceitável em algum outro conjunto de costumes sociais, em algum outro mundo de algum outro universo por aí, mas, na humanidade como a conhecemos hoje, tal afirmação pode, tranquilamente, ser considerada um absurdo ético.
Pois bem, como todo dito popular, esse também reflete um padrão de raciocínio que ainda encontra algum eco na ética das pessoas hoje em dia. E não por acaso, em um momento remoto do passado da civilização, pode-se encontrar pistas se sua origem na instituição da "vingança" como uma forma válida de justiça. Talvez, os primeiros registros que se tem notícia datem de mais de 3700 anos atrás, quando, no Código de Hamurabi, surgiam os primeiros sinais do que viria a ser a Lei de Talião. Segundo esta lei, alguém que infligisse dano a outrem poderia ser punido com o mesmo dano, ou outro similar nas mesmas intensidade e condições — "olho por olho, dente por dente". Com a evolução intelectual, percebeu-se o óbvio: matar o assassino de outrem, por exemplo, não traz a vítima de volta à vida. Logo, outras formas de justiça começaram a ser empregadas para preservar a ordem e o bem-estar coletivo. Entretanto, tal sentimento parece não ter desaparecido por completo da sociedade até hoje.
Justificar uma atitude péssima com outra pior é um costume que já deveria ter sido absolutamente extinto, mas ainda está presente em diversas áreas de nossas vidas. Quando se furta material de escritório da empresa porque se sente explorado, quando se sonega impostos porque o governo não os aplica de forma adequada, quando se prejudica alguém porque foi prejudicado por ela, etc., está-se rebaixando ao mesmo patamar — ou até a um nível inferior — daquele em cujo o mal se estabelecera. E nenhum progresso ou melhoria podem surgir daí, fazendo com que o problema, ao invés de diminuir, apenas aumente, prejudicando a si e aos demais.
Outra coisa — e que nada tem a ver com a primeira — é quando a pessoa, deliberadamente, mobiliza-se por melhores condições de trabalho, quando faz campanha contra um governo corrupto, quando alerta outras pessoas contando sua própria história de prejuízo por causa de alguém, etc. Note que nestes casos, a atitude deixa de ser "vingativa" e passa a ser "inteligente", simplesmente porque gera condições para que o problema não mais se repita, nem consigo mesmo, nem com o próximo.
Mas se você ainda não adota tal atitude, não se desespere. Apesar da ideia ser simples, sua implementação está mesmo longe de ser fácil. Basta, por agora, não confundir uma coisa com outra e o primeiro passo para um futuro melhor já estará dado...
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