Quem vive em São Paulo deve ter percebido que as últimas semanas foram sui generis em termos meteorológicos. Choveu muito, mesmo antes das "águas-de-março" darem as caras por aí. Durante um noticiário da TV no dia primeiro de fevereiro, por exemplo, dava para notar, na apresentadora da previsão do tempo, uma certa frustração pelo recorde histórico do índice pluviométrico não ter sido ultrapassado no mês anterior. Ela chegou a lamentar que as medições do último dia do mês considerassem apenas o índice registrado até às 10:00 h da manhã, método diferente do que fora usado em 1974, na ocasião do maior registro histórico para janeiro.
O fato é que o excesso de chuvas tem causado uma série de transtornos, tanto para os moradores quanto para os transeuntes da maior cidade da América Latina. E as causas a que recorrem são várias: clima planetário bagunçado por alterações antrópicas, excessiva impermeabilização do solo, diminuição das áreas verdes, rios assoreados, poluição, lixo entupindo redes de coleta pluvial, etc. Daria para escrever uma postagem só com as prováveis causas das enchentes, desmoronamentos, surtos epidêmicos e uma série de outros problemas causados pelo grande volume de água.
Não omissa aos problemas, a prefeitura da capital paulista se apressou em culpar São Pedro, pela quantidade de água que cai do céu, e sua própria população, pelo lixo que tem jogado nas ruas ou abandonado nas calçadas em dias sem coleta prevista. Nenhuma palavra foi dita, entretanto, sobre incompetência na gestão de recursos públicos.
Como o recorde de chuvas para o mês não foi superado, fica difícil alegar que a principal causa de tantas atribulações não pudesse ser prevista e evitada. Aliás, mesmo se o índice pluviométrico fosse um pouco maior do que o máximo registrado da década de 1970, mais de trinta anos não seriam suficientes para se tomar providências contra inundações? E como explicar que um bairro da periferia, com instalações da própria prefeitura, fora deixado dias sob as águas, sem que qualquer medida de contenção fosse adotada? E o que dizer da falta de fiscalização efetiva contra a ocupação irregular em áreas de risco? Da ausência de campanhas educativas para a população no período? Dos cortes nas verbas de limpeza urbana no início do ano passado? Da total inexistência de programas de recuperação de áreas verdes e permeabilização de solos?
Não bastasse tudo isso, o Imposto Predial Territorial e Urbano (IPTU) ainda aumentou e foi cobrado, indevidamente, de famílias que tiveram suas casas invadidas pela água. Em sua maioria carentes, essas pessoas terão de se virar para conseguir provas do ocorrido, caso desejem o benefício da lei municipal que as isentam do pagamento imposto nestes casos.
Mas, considerando que nenhum candidato a cargos eletivos da administração pública se elege por conta própria, temos de admitir que a culpa deve ser nossa mesmo...
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