quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

...E o preconceito agrário.


Enquanto isso, no mesmo jornal, porém na data de anteontem, 23/02/2010, Arno A. Goettems, professor de geografia do colégio Santo Américo, publicou um pequeno artigo no caderno Fovest, direcionado aos vestibulandos. Partindo de uma evidência — uma placa de trânsito na rodovia RS-406, município de Nonoai (RS), que liga o norte do Rio Grande do Sul a Santa Catarina, onde se lê: "ATENÇÃO INDÍGENAS NA PISTA A 300 m", ao invés de "ATENÇÃO PEDESTRES NA PISTA A 300 m" — da diferenciação que os órgãos de governo fazem entre os povos indígenas e os demais brasileiros, analisa a situação dos índios na América Latina e sua relação com a situação fundiária da região.

Segundo Goettems, é nesse tipo de diferenciação, por parte de órgãos governamentais, em "que está a raiz da situação de exclusão social em que se encontram diversos povos indígenas latino-americanos". Aponta também que "a questão indígena está cada vez mais vinculada à questão agrária", histórica fonte de conflitos, por vezes, negligenciada pelos meios de comunicação.

Os indígenas americanos — seres humanos, apesar de não compartilharem o mesmo modelo de vida — dominavam todo o continente antes da chegada dos colonizadores europeus. A partir do final do século XV, foram perseguidos, escravizados e mortos, tendo sido, nos dias de hoje, relegados à exclusão social e econômica nos vários países americanos. Os descendentes de povos poderosos como os Incas, Maias e Astecas, por exemplo, vivem em condição de extrema pobreza nos países que hoje ocupam seus antigos domínios, assim como diversas tribos no Brasil. E, simplesmente por destoarem da lógica econômica dominante, é provável que muitos conhecimentos valiosos, no que tange às relações sociais, tenham se perdido ao longo do processo, algo que ainda vêm ocorrendo.

E enquanto entidades defensoras de grandes proprietários de terra como o MNP (Movimento Nacional de Produtores) acusam os índios de serem os maiores latifundiários do Brasil, já que as reservas somam 12% do território nacional (quase 2,5 mil hectares por indivíduo), as ações de movimentos sociais como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) são exibidas como crimes hediondos no noticiário, sem que ninguém se pergunte se tais ações, obviamente inaceitáveis, não sejam, talvez, um grito agonizante de milhões de brasileiros esquecidos pelos cantos deste imenso país.


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