Pouca gente se deu conta da significação, mas a ajuda "humanitária" que os Estados Unidos da América enviou para o Haiti, depois da catástrofe sísmica, foi, basicamente, tropas militares. Mais de nove mil soldados estadunidenses desembarcaram no pequeno país caribenho e tomaram conta de seus portos e aeroportos. Suspenderam a aterrisagem em Porto Príncipe de qualquer avião que não tivesse agendamento de pouso prévio e impediram o acesso da Minustah (Missão de Paz da ONU no Haiti) ao local. Aviões do Brasil, país com o controle militar da Minustah, e de diversos outros países que levavam ajuda às vítimas tiveram de pousar em outros aeroportos. No caso brasileiro, dos oito aviões enviados ao Haiti, logo após o desastre, apenas três conseguiram pousar em Porto Príncipe. Outros três tiveram de pousar em Santo Domingo na República Dominicana e dois tiveram de aguardar autorização em Boa Vista, Roraima. O ocorrido rendeu, inclusive, um certo mal-estar diplomático entre Brasil e EUA.
No dia 12 de janeiro de 2010, um terremoto de sete graus na escala Richter, e cujo epicentro se deu há cerca de 15 km de Porto Príncipe, matou mais de cem mil pessoas, incluindo 17 brasileiros, e deixou cerca de um terço da população haitiana desabrigada. E mesmo assim, segundo Sandra Quintela, economista integrante do Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS)/ Rede Jubileu Sul, a sanha militar estadunidense foi de tal ordem que os alimentos enviados pela China chegaram ao Haiti antes de qualquer ajuda material do vizinho EUA que está há menos de uma hora de voo. A primeira remessa estadunidense, aliás, foi um contingente de mais de dois mil soldados.
Se considerarmos o fato da Colômbia ter permitido a instalação de sete bases militares em seu território, da Quarta Frota ter sido reativada em 1° de julho de 2008, de haver uma unidade de intervenção anfíbia estacionada em Nassau, nas Bahamas, entre de outras inúmeras intervenções militares estadunidenses espalhadas por toda a América, não é de se estranhar que tanta gente ao redor do mundo esteja preocupada com os reais objetivos do Nobel da Paz, Barack Obama. Quem aprecia um pouco de história, deve se lembrar que gastos militares, há tempos, têm sido uma excelente forma de se gerar, indefinidamente, demandas produtivas na economia, minimizando crises em diversos países. O problema é a necessidade de estourar alguma guerra de vez em quando.
Mas, conforme vários comentários, o Haiti deve, realmente, estar em boas mãos, já que a capacidade dos EUA em coordenar a reconstrução de um país é inquestionável. Haja vista o excelente trabalho que fizeram no Japão, depois dos únicos dois ataques nucleares que se tem notícia na história da humanidade, desintegrando duas cidades inteiras e matando instantaneamente mais de 200 mil pessoas — a maioria civis — no final da Segunda Grande Guerra Mundial em 1945.
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