Se não serviu para fechar um acordo decente para o meio-ambiente, a COP-15, no final do ano passado, pelo menos mostrou a importância do ecletismo na busca por soluções difíceis. Afinal, fazer com que 194 nações, com interesses econômicos absolutamente diversos, cheguem a um acordo comum pode ser tudo, menos fácil, principalmente quando o pomo de discórdia é o dinheiro.
Mas eis que em meio às acaloradas discussões sobre ações de mitigação nos países em desenvolvimento, cortes nas emissões de gases de efeito estufa (gás carbônico, metano, etc.) nos países desenvolvidos, preservação dos "depósitos de carbono" (florestas) nas regiões tropicais, estabelecimento de limites para aumento da temperatura média e concentração de gás carbônico na atmosfera, etc., uma figura controversa do sistema financeiro mundial, George Soros, surge com uma alternativa viável para se conseguir os recursos necessários ao financiamento de boa parte das medidas ambientais pleiteadas. Segundo ele, cerca de US$ 100 bilhões dos US$ 283 bilhões de um fundo criado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) para enfrentar a crise econômica de 2008 poderiam ser empregados para viabilizar a adoção de tecnologias mais limpas nos países pobres. A proposta foi aplaudida por várias organizações não-governamentais ali presentes, inclusive pelo Greenpeace.
George Soros, húngaro de nascimento e estadunidense por opção, aprendeu seu ofício no berço financeiro anglo-saxão, Londres, tão bem que quase quebrou o Banco Inglês e dezenas de outros países pelo mundo, especulando, principalmente, com as taxas de câmbio. Inteligente que é, não poderia deixar de manter relevantes instituições filantrópicas e usar boa parte de sua fortuna em ações de caridade. Foi esta inteligência, ou talvez sua perspicácia em enxergar lucro onde a maioria vê prejuízo, que encontrou um caminho plausível para mobilizar recursos inativos em prol do meio-ambiente. Seria uma burrice desconsiderar sua ideia por causa de suas atitudes controversas, mas é o tipo de coisa que acontece com frequência em situações similares — você já deixou de aproveitar algo só porque foi fruto do trabalho de um arqui-rival?
Ainda bem que a controvérsia convive pacificamente na zona de conflito entre meio-ambiente e desenvolvimento econômico. No Brasil, por exemplo, parte do dinheiro proveniente da exploração das reservas petrolíferas do pré-sal, financiará ações para a preservação do meio ambiente. Tal como no caso do insaciável especulador, também aqui, desprezar valiosos recursos porque não vêm de uma fonte de energia limpa não parece ser uma atitude muito inteligente, uma vez que, no atual estado das coisas, dificilmente a extração e uso desse petróleo poderá ser evitada. Conformar-se com a situação, tampouco demonstra inteligência, já que não extingue o problema.
O ecletismo talvez demonstre com mais clareza que, hoje, é o dinheiro o que determina a viabilidade de uma ideia. Há quem diga até que os ecléticos que perceberam isto no passado estão entre bilionários de atualmente.
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