terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Cooptação Ambiental.


E por falar em ética, ontem começou a COP-15, o evento em Copenhague, capital da Dinamarca, patrocinado pelas Nações Unidas e que pretende reunir todos os chefes de Estado para chegarem a um consenso sobre as medidas necessárias ao controle das alterações climáticas, causadas pelo homem, na Terra. Em meio a ladainha político-financeira interminável, países se acusam e se justificam, mutuamente, como se tal atitude fosse contribuir com algo útil. Dá para dizer, inclusive, mesmo não sendo psiquiatra, que as sociedades, de modo geral, estão tendendo, seriamente, à esquizofrenia. Ou — fato igualmente provável —, ninguém está entendendo ao certo o que está sendo discutido nesses foros.

Os países pobres acusam os países ricos de terem devastado suas áreas florestais em prol de seus próprios desenvolvimentos econômicos — o que é absolutamente verdade — e de tentarem impedir, agora, que os demais façam o mesmo. Suponha que seja exatamente assim e que os países ricos não queiram mesmo mover uma única palha para ajudar ninguém. Ora, é apenas impressão ou os países em desenvolvimento estariam considerando a hipótese de continuar destruindo seus biomas para não atrapalhar seus próprios desenvolvimentos, trilhando o mesmo caminho de seus criticados primos ricos?

Mais, praticamente todos os países criticam o EUA de Obama — que, façamos justiça, ao contrário do governo Bush, pelo menos se dignou a dialogar — por não se comprometer com metas agressivas para reduzir o lançamento de gás carbônico na atmosfera terrestre, alegando que isto poderia prejudicar sua recuperação pós-crise. Oras, perguntar não ofende: os Estados Unidos da América vendem para quem? Por que, ao invés de continuar criticando e comprando, não interrompem ambas as coisas simplesmente?

O tema ambiental não é uma dialética entre natureza e desenvolvimento, senão uma necessidade primordialmente humana, já que a Terra continuará existindo com ou sem a gente por aqui. Não é uma questão financeira tampouco. O governo paulista, por exemplo, gastou milhões de reais durante anos para conter as cheias do Rio Tietê. De ontem para hoje, muito antes das águas típicas do verão, choveu mais de treze horas sem parar e, adivinha: o Tietê deixou as zonas norte e oeste debaixo d'água, inclusive a maior central de abastecimento do estado, a CEAGESP. Enquanto isso, no Rio Grande do Sul, dezenas de cidades estão em situação bem pior. E, em algumas regiões amazônicas, a estiagem matou milhares de peixes, deixando rios e população ribeirinha em estado de penúria. Qual é o prejuízo que já se verifica devido às alterações climáticas hoje?

Isso tudo sem mencionar que, pelo fato de pensarmos, de possuirmos consciência e discernimento, a busca pelo equilíbrio, pela sustentabilidade e preservação da própria espécie deveria ser o caminho mais natural e não o mais difícil. Imagine se, após o acidente com o voo AF 447 da Air France, as autoridades fossem pensar sobre a viabilidade da operação de resgate. Não. Mesmo já sem esperanças de se encontrar algum sobrevivente, o Brasil gastou milhões de reais durante semanas, sem questionar, em momento algum, se o dinheiro faria falta no orçamento. Simplesmente porque há coisas que não se medem financeiramente. Se a Terra está a beira de um colapso, como dizem os ecologistas, ou se há boas chances para isso, como dizem os cientistas, um mínimo de bom senso seria esperar que as civilizações se acautelassem, buscando uma solução comum, algo a ser feito em conjunto, e não que apenas discutissem sobre as implicações econômico-financeiras do problema. Afinal, sem um planeta são, não haverá economia viável.

Mas a despeito de tudo isso, não é curioso que os dinossauros, ditos irracionais, tenham dominado o planeta por cerca de 110 milhões de anos e o homo sapiens, dito racional, não se preocupe em ameaçar seu domínio em pouco mais de 40 mil?



Nenhum comentário:

Postar um comentário