domingo, 6 de dezembro de 2009

Para Entender a Vida...


Ontem, passando pelos canais de televisão, acabei pegando o pedacinho final de um documentário, na TV Cultura, sobre o poeta Carlos Drummond de Andrade. Lembrei-me de um livro dele que li, ainda pequeno, chamado A Rosa do Povo. Mas, confesso que, à época, não me emocionei muito, certamente por não entender muito bem sua poesia. Não me refiro, porém, ao entendimento "técnico" de seu texto, mas ao universo contextual de sua obra.

É um padrão, aliás, na vida dos seres humanos: não entender e, consequentemente, não gostar. Acostumamo-nos a não gostar de algo quando não o entendemos. E um exemplo típico é quando nos dizem algo de que não gostamos. Não gostamos porque não entendemos. Ora, se alguém nos critíca é porque, no mínimo, nossa presença não é indiferente à outra pessoa. Já ouviu falar naquele ditado: "O ódio está mais próximo do amor do que a indiferença."? Então, se você não se importa com o outro, jamais se preocupará em dizer qualquer coisa a ele ou a ela. Ao contrário, apenas quando se preocupa, tenta ajudar, mesmo que precise dizer algo mais contundente. Este costuma ser o papel dos verdadeiros amigos...

Entretanto, normalmente, quando alguém nos diz algo que nos desagrada, ao invés de tentarmos entender o que está sendo dito, simplesmente não gostamos. No meu caso, talvez tenha sido mais ou menos isso o que ocorreu com o gosto pela poesia moderna. Foi, ao longo do tempo, uma companheira, mas nunca uma paixão.

Os anos se passaram, a alma acumulou bagagem e uma certa argúcia na compreensão das coisas acabou se consolidando. Portanto, como já me foi dito, Drummond é um dos que deverão ser relidos brevemente. Sua poesia, além de bela, carrega na essência uma sabedoria pragmática de sua própria vida, entendida apenas por espíritos dispostos a compreender sua metafísica poética. Se não, serão apenas algumas das melhores poesias modernas da literatura brasileira. Nada mais.


Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.


Carlos Drummond de Andrade

2 comentários:

  1. Drummond...

    Dele foram dois dos livros que levei do Brasil pra Europa...

    ResponderExcluir
  2. Realmente, uma das maiores personalidades contemporâneas. A companhia dele, principalmente fora do Brasil, é imprescindível!

    ResponderExcluir