Dentre as inúmeras atividades humanas, uma das mais admiráveis é a política. E antes que você comece a duvidar da sanidade mental do autor deste blog, sugiro que, primeiro, leia o texto até o final para, só depois, tirar suas próprias conclusões a respeito da afirmativa, ok?!
Pois bem, é um hábito admirar o trabalho daqueles cuja ocupação é mais complexa ou perigosa que o usual, tal como um soldador-mergulhador de plataformas marítimas de petróleo, pilotos de caça ou astronautas. Ou mesmo de profissionais tradicionais, mas cujos resultados superem a média das expectativas, como engenheiros com técnicas inovadoras, hábeis advogados engajados socialmente, médicos abnegados, artistas de estética inquestionável, filósofos, psicólogos, professores, administradores, enfim, uma verdadeira miríade de trabalhadores admiráveis, cada qual na sua área específica de atuação.
Há, entretanto, inúmeras outras profissões pouco admiradas, porém, não menos importantes. O que dizer dos garis que, a despeito do pouco caso de muita gente formada, mantém o asseio das áreas comuns nas cidades grandes? Ou das cozinheiras responsáveis por alimentar um batalhão de crianças — talvez até um filho seu — nas escolas públicas? E se ainda não percebeu o altíssimo valor do trabalho dessas pessoas, basta comparar as diferenças no seu ambiente de trabalho após as ausências, primeiro, de seus superiores e, depois, do pessoal da limpeza, por apenas uma semana. Verifique quem fará mais falta... Sem mencionar o fato de que raríssimas pessoas trocariam de lugar com esses trabalhadores, mesmo sem redução de seus ganhos atuais.
E é mais ou menos neste pé que entra a citada admiração pela política. Para uma pessoa de princípios, deve ser tudo, menos fácil, ter de assumir, publicamente, determinadas posições políticas. Imagine-se tendo de apoiar, ou não, o aumento de mais de 90% do próprio salário enquanto vota a favor, ou contra, a elevação da alíquota de imposto, ao mesmo tempo em que milhares de pessoas sofrem as agruras de alguma catástrofe "natural". Vizualize-se em uma reunião anual de planejamento orçamentário, com assessores lhe assoprando nos ouvidos inúmeros dados, como o aumento de X% na mortalidade infantil e Y% na taxa de homicídios, enquanto o povo aguarda sua decisão se vai ou não liberar o dinheiro — o único disponível para todos os problemas — para abrir mais vagas, necessárias há anos, nas escolas e creches públicas.
Mesmo para os de moral, digamos, manca, deve ser algo complexo manter-se incólume em meio aos disparos, cada hora de um lado. A vida de um político de conduta dúbia deve ser tão eletrizante quanto uma apresentação de mágica, na qual um cara amarrado, acorrentado e trancafiado em um cofre atirado ao mar, tem de sair ileso da situação em apenas alguns segundos — e sai! Da mesma forma, parece nunca haver saída para o político moralmente manco, uma vez que não importa muito o que faça — certo, errado ou nada — ele sempre está sob risco de ser fuzilado por algum dos lados, seja pelos seus pares, opositores ou eleitores — mas, raramente o acertam! Por causa de tudo isso, tanto quanto as demais ocupações preteridas, também bem pouca gente se disporia a viver dessa maneira.
Portanto, esqueçamo-nos dessa história de "vida fácil" dos políticos e, como ativos participantes de um legítimo sistema democrático, concentremo-nos nas nossas próprias atitudes, de forma a torná-las efetivas na construção de uma sociedade melhor. Como comentado em outra postagem, "Brasília", os políticos que aí estão representam de forma relativamente fiel o conjunto da sociedade brasileira. Porque, enquanto parte dos cidadãos continuar escolhendo seus representantes com base nos benefícios que terá para si, sempre haverá parte dos políticos agindo da mesma forma, ou seja, também buscando auferir benefícios para si e não para os outros — que, neste caso, somos nós.
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