A Hipótese Biogeoquímica, ou Hipótese de Gaia, é um polêmico modelo que considera todo o planeta como um único organismo vivo, onde a biosfera e cada um de seus componente físicos — ou seja, atmosfera (ar), hidrosfera (água), criosfera (gelo) e litosfera (pedra) — são partes integrantes e intimamente relacionadas de um sistema complexo. Neste sistema, todos os componentes se ajustam dinamicamente, buscando uma condição de equilíbrio perene. Inicialmente proposta pelo britânico James E. Lovelock, com o nome de Hipótese de Resposta da Terra, a hipótese foi rebatizada com o nome de Gaia, suprema deusa grega da Terra.
Além de poético, o modelo de um único organismo formado por muitos outros parece bastante razoável, uma vez que há inúmeros exemplos de "colônias" de seres formando outros, mais complexos, tal como um arrecife de corais, uma caravela (cnidário) ou até nós mesmos (sim, ou acha que sobreviveria bem sem sua flora intestinal, por exemplo?). Alguns seres, inclusive, dão tão certo trabalhando juntos que acabam se fundindo, como é o caso de nossas mitocôndrias celulares — organelas responsáveis pela respiração celular. O DNA mitocondrial é uma forte evidência de que as mitocôndrias eram, antigamente, bactérias que foram assimiladas por seres mais complexos, conforme reza a teoria da endossimbiose.
Mas independentemente da visão de Lovelock estar correta, ou não, é incontestável que nós, seres humanos, somos uma única espécie no meio de bilhões de outros seres vivos no planeta. Sendo assim, o que nos faz crer que podemos dispor, como bem entendermos, dos recursos naturais sem que nos preocupemos com as consequências disso? Analogamente, seria legítimo um indivíduo sair pela cidade fazendo o que bem entender sem se incomodar com as demais pessoas?
E por falar nisso, as analogias são excelentes ferramentas para se entender problemas sobre si próprio, já que oferecem um ponto de vista diverso e fora do sujeito em questão, além, claro, de serem divertidíssimas! Assim, aproveitando a hipótese explicada, pensemos na Terra como um ser humano, com milhões de células vivas — os seres vivos — em seu interior, cada qual com seu papel. As hemácias, anucleadas, apesar de absolutamente essenciais à vida, são passivas, sendo levadas de um lado a outro ao sabor da corrente sanguínea — tal como fazemos com os recursos naturais. Os leucócitos, responsáveis pela defesa do organismo, células diferenciadas e ativas, são capazes de se encaminhar, voluntariamente, até onde são necessários — tal como nós, seres racionais. Assim, quando bactérias invadem algum lugar, logo aparecem os leucócitos para detê-las. Ou quando um grupo de outras células do próprio organismo acaba por se rebelar, criando um tumor, imediatamente surgem os leucócitos para dissolvê-lo o quanto antes.
Em um dado momento, os leucócitos, cheios de si e cientes de seu poder, começaram a comandar tudo no organismo. As hemácias já não eram simplesmente levadas pelo sangue, mas passaram a ser reguladas pelos leucócitos — e o organismo ficou com anemia. Os leucócitos passaram, então, a atacar algumas células desobedientes do pâncreas que, parando de produzir a insulina, deixou o organismo diabético. Após as interferências, percebendo a dificuldade com que os órgãos passaram a funcionar, os leucócitos começam a agredi-los, buscando forçá-los a melhorar novamente...
E fica sob sua responsabilidade terminar qualquer uma das histórias: a do "planeta-homem" ou a dos "homens-leucócitos".
Nenhum comentário:
Postar um comentário