Não bastasse boa parte da imprensa brasileira — na figura dos donos e editores-chefes de alguns dos grandes veículos de comunicação — andar, frequentemente, de mãos dadas com os leprechauns da imparcialidade, alguns de seus jornalistas, além de não ajudar, ainda atrapalham bastante. Poucas coisas são piores do que falar mal, constantemente, do país em que se vive e do qual se retira o próprio sustento — o termo em bom português brasileiro é "cuspir no prato que come". Não que, obviamente, deva-se fazer "vistas grossas" aos problemas, mas quando o falar mal começa a predominar, impedindo que se veja o que também há de bom no país, isto começa a ser um problema sério. Esse tipo de gente — principalmente entre os jornalistas — que vive "babando o ovo" de outros países, ditos desenvolvidos, deveriam receber um prêmio. Sim, um prêmio: uma viagem só de ida para o país que bem quisessem.
É tanta notícia falando mal do Brasil que quando se encontra um texto criticando um problema interno de um país do "primeiro mundo", as pessoas até se espantam — note o tamanho do prejuízo subliminar causado pelo falatório quase que exclusivamente negativo! Pois foi o caso de uma notícia no caderno "The New York Times" veiculado pela Folha de São Paulo do dia 28/09/2009. Na última página, consta a história de uma mãe estadunidense, Jennifer Hall-Massey, que viu seus dois filhos apresentarem vários problemas de saúde por conta da água contaminada com metais pesados e outras substâncias tóxicas. Tanto na sua residência, nas proximidades de Charleston, Virgínia Ocidental, quanto nas de seus 264 vizinhos, a água que saía das torneiras apresentava índices alarmantes de poluição por conta dos resíduos perigosos descartados por nove empresas de carvão das redondezas. Mesmo alertados sobre o problema, os organismos reguladores estaduais não puniram qualquer responsável e a Agência de Proteção Ambiental do país sequer pensou em intervir.
Segundo a reportagem de Charles Duhigg, o fenômeno não está restrito à região da Virgínia já que, nos últimos cinco anos, empresas de todo o país cometeram cerca de meio milhão de infrações às leis de proteção a água, sendo que a maioria escapou impune. Além disso, sem considerar as doenças causadas por essas toxinas e substâncias químicas, estima-se que cerca de 19,5 milhões de pessoas adoecem nos Estados Unidos da América por consumirem água contaminada por parasitas, vírus e bactérias — segundo estudo da "Reviews of Enviromental Contamination and Toxicology".
Hall-Massey conta que depois de seu filho de seis anos, Clay, brincar na banheira, ficou com partes de seu corpo vermelhas, irritadas e doloridas a ponto dele não conseguir dormir naquela noite. Ao se queixar às autoridades, foi dito à Hall-Massey que não sabiam porque a água da casa dela estava tão poluída, mas que duvidavam que a culpa fosse da indústria carvoeira da região. A família decidiu, então, colocar a casa a venda mas, devido ao problema da água, nenhum comprador se interessou pelo imóvel. Após ela e seus vizinhos entrarem com um processo contra as empresas, desabafou com o repórter: "O trabalho mais importante dos pais é proteger os filhos. Mas onde estava o governo para nos proteger contra essa sujeira?".
Ao contrário do que geralmente à primeira vista, a história deveria chocar pela sua desumanidade, não pelo fato de ter acontecido nos Estados Unidos da América. Quem sabe isto venha a ocorrer algum dia quando, então, muitos estarão gozando suas viagens-prêmio. Já para os que ficarem, fica o prêmio de consolação: um sentimento nacional mais autêntico do que aquele manifestado apenas nos eventos esportivos internacionais... E, claro, um país melhor!
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