Os ditados populares, como o próprio nome diz, são dizeres comuns entre o povo e que, após algum tempo, acabam por adquirir um certo quê de verdade. É quase como a evolução darwiniana de uma ideia que, sobrevivendo às provações do cotidiano, terminam lapidadas, transformando-se em jóias da sabedoria popular.
Um ótimo exemplo de ditado popular é o do título: "há males que vêm para o bem". Ótimo exemplo porque foi mais ou menos o que houve com a crise econômica neste ano que vai se acabando. Segundo a Agência Internacional de Energia, AIE (ou IEA, "International Energy Agency"), a emissão de gás carbônico, um dos causadores do efeito estufa, deve cair cerca de 3% em relação à estimativa para o ano por causa da crise econômica que assolou o mundo. Sem discussão, sem desacordos políticos, sem protesto de ecologistas ou outros "inconvenientes ambientais", o recuo nas emissões foi o mais brusco dos últimos quarenta anos. E mesmo sem a adoção de novas medidas de contenção, as emissões projetadas para 2020 devem ficar cerca de 5% menores.
A concentração de gás carbônico na atmosfera vem subindo desde a industrialização e a maioria dos especialistas parece concordar que seu valor seguro — insuficiente para alterar de forma catastrófica o clima mundial — é de 350 ppm (partes por milhão), quase 30% superior à de 200 anos atrás. Mantendo-a em 450 ppm, acredita-se que haja 50% de chance do aquecimento global não ultrapassar os 2 ºC — valor crítico. O "problema" é que já para estabilizá-la aí, entre 2010 e 2030, estima-se um custo de US$ 10 tri que se eleva em US$ 500 bi a cada ano de inação.
A crise econômica de 2008, péssima para muita gente, acabou sendo um grande negócio para o meio-ambiente e é essa dicotomia da realidade que assusta. Por que o ambiente tem de perder para a economia ganhar ou vice-versa? A recente COP-15, só para variar, terminou com uma negociação pífia, estimando concentrações de 770 ppm para o ano de 2100. A justificativa para o fracasso do acordo? Ganha um doce quem responder que foi a crise econômica...
Mas "devagar se vai longe" e, pouco a pouco, cada vez mais gente ao redor do globo vem contestando certas posições de suas lideranças políticas. E como "a voz do povo é a voz de Deus", talvez haja alguma esperança de se chegar ao consenso de que "mais vale um carbono no chão do que dois voando"...
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