segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Futebol Quântico


Mesmo quem não acompanha futebol deve ter ouvido falar sobre as reviravoltas nas últimas rodadas do Campeonato Brasileiro. O Palmeiras chegou a liderar a competição por 19 rodadas consecutivas e o São Paulo, segundo os matemáticos esportivos da TV, chegou a ter 55% de chances de se sagrar campeão pela sétima vez — quarta consecutiva. Mas no final, foi o Flamengo que levou a taça para casa, deixando Internacional, São Paulo e Cruzeiro como segundo, terceiro e quarto lugar, respectivamente.

Não há como negar que o resultado foi uma tremenda surpresa, confirmando mais uma vez, outro adágio popular: "o futebol é uma caixinha de surpresas". A afirmação, claro, baseia-se na experiência de milhares de torcedores ao longo dos anos, mas sem possuir qualquer base científica. Bom, isto foi verdade até meados deste ano quando dois britânicos, um astrofísico e um estatístico, Gerald Skinner e Geoff Freeman, respectivamente, publicaram um trabalho analisando os resultados dos 64 jogos da Copa do Mundo ocorrida na Alemanha em 2006. A conclusão a que chegaram só confirmou o que a galera já imaginava: a probabilidade da melhor equipe ganhar a competição é menor do que 30%. A análise foi feita comparando grupos de três jogos, sendo definida uma "zebra" quando um time vencedor, perdesse para outro, previamente vencido por seu adversário derrotado.

Os critérios — ou modelo — utilizados são discutíveis. Afinal, como saber de antemão qual o melhor time se uma competição serve exatamente para determiná-lo? Sem mencionar que a precisão de uma análise estatística é tão precisa quanto maior for a quantidade de amostras — no caso, jogos. E os 64 jogos de uma Copa do Mundo é, de fato, uma amostra pequena — aumentá-los, muito provavelmente inviabilizaria o torneio. Mas se um campeonato como o Brasileirão, de pontos corridos e com muitos jogos, terminou com uma classificação tão inesperada, supõe-se que o resultado dos cientistas não seja, assim, de todo absurdo.

A estatística, neste caso, acabou por confirmar o senso comum, mas é sabido que em muitos outros, faz justamente o contrário. Seria correto afirmar, então, que os resultados estatísticos não são confiáveis? Ou, contrariamente, que algum dia será possível prever o acaso?

Felizmente, nem um, nem outro. Quase com certeza, a vida sempre terá suas caixinhas-de-surpresas como a que Schröndiger descreveu em seu experimento com o gato*. E, tal como no futebol, é justamente no inesperado em que reside a graça de viver...



* O "Gato de Schrödinger" é um experimento mental proposto pelo próprio físico austríaco, Erwin Schröedinger, para tentar explicar as implicações da Teoria Quântica. Neste experimento, um gato vivo seria colocado em uma caixa fechada, junto de um dispositivo que pode, ou não, matá-lo dentro de um certo intervalo de tempo. Não sendo possível determinar se o gato está vivo ou morto com a caixa fechada, a Teoria Quântica assume que o bichano está em um estado intermediário — vivo e morto ao mesmo tempo. A implicação disto é que, na natureza, sempre haverá um limite para aquilo que podemos determinar — como, por exemplo, a real situação do gato enquanto a caixa permanecer fechada.

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