Se no ano existir, mesmo, um momento propício para que seus desejos se realizem, este é, muito provavelmente, o período natalino. Místicas à parte, como nesta época a disposição em ajudar os outros aumenta nas pessoas, não seria exagerado supor que a probabilidade de um desejo se concretizar também aumente. Afinal, tudo que se almeja depende sempre, basicamente, de três fatores: do próprio esforço, das ações dos outros e do acaso — ou divindade, Deus, destino ou algo que o valha. Pode-se dizer, portanto, que fazer pedidos na véspera do natal, além de perfeitamente humano, seria, também, "matematicamente" justificável. Seja como for, a dependência das ações, por parte de quem deseja, é patente — nem que seja, mera e unicamente, o ato de pedir.
A transcrição do sermão "A Urgência de Viver" do rabino Henry Sobel — feito à ocasião do "Yom Kipur", dia do perdão que antecede o ano novo judaico —, enviada por uma amiga muito especial, serve de inspiração para pedidos menos convencionais neste natal. Ao invés de, como sempre, desejar muita alegria, muita paz e muito dinheiro, talvez melhor seria desejar um pouco de impaciência, algum egoísmo e uma dose de indignação.
Indignação para gerar a força necessária à movimentação da infeliz zona de conforto em que muitos se encontram. É essencial se indignar com cada criança deixada ao sabor das ruas, com cada ser humano caído nas calçadas, com cada família encharcada com a água podre das enchentes urbanas, com cada idoso esquecido nas zonas rurais, com cada desempregado, com cada ato de violência gratuita e até com a incapacidade de resolver os próprios problemas. A falta de indignação acomoda a ponto de nos acostumarmos com as crianças nas ruas, com o tráfico de influência nas instituições públicas, com a violência gratuita, com a fome, com a insatisfação da própria vida e com tantas outras indignidades.
Egoísmo para se evitar a armadilha de querer corrigir o outro ao invés de, primeiramente, a si mesmo. Ao se indignar com algo, é necessário ser egoísta para pensar, primeira e exclusivamente, em si próprio, avaliando se as próprias atitudes contribuem, ou não, para o surgimento do objeto de indignação. São as ações individuais que, no conjunto, fazem toda a diferença.
Impaciência para não mais ser possível esperar um segundo sequer para agir. Depois de se indignar e identificar o que é preciso mudar no próprio agir, a impaciência dará um sentido de urgência fundamental às realizações. Impacientemo-nos, se for o caso, com o fato de não estarmos suficientemente felizes, de injustiças ainda serem cometidas, das coisas não funcionarem como deveriam, da paz ainda não ser a única opção...
Como comentado no início, apesar dos pedidos generalizados por alegria, saúde, paz, riqueza e vários outros votos natalinos, desejemos um pouco de indignação, algum egoísmo e uma dose de impaciência. Afinal, é o cultivo, individual e urgente, da dignidade coletiva que abençoará o natal de todos nós.
Tenha um natal maravilhoso!
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