Domingo passado saiu uma notícia na Folha de São Paulo sobre o aumento na procura pelo curso de engenharia civil. De acordo com a reportagem, a oferta de vagas nos cursos de graduação não acompanhou a demanda, ficando cerca de 30% abaixo desta no mesmo período. A resistência das instituições de ensino em abrir novas turmas se deve, muito provavelmente, aos altos e baixos do mercado de trabalho que essa profissão experimenta, exaustivamente, ao longo de anos no Brasil.
Ainda segundo a reportagem, sugere-se que a construção civil anda sofrendo um "apagão" de mão-de-obra, algo que deve piorar muito com a aproximação da Copa do Mundo, em 2014, e dos Jogos Olímpicos, em 2016, no país. O governo vem pensando em financiar a expansão do número de vagas nos cursos de graduação, mas não há solução imediata possível, já que, se a quantidade de vagas aumentasse neste exato momento, os primeiros engenheiros só estariam formados em 2015 — pelo menos no meu tempo, eram necessários dez semestres para se formar um engenheiro civil.
Mas se a situação é periclitante e a falta de mão-de-obra é, assim, tão grave, como podem existir tantos anúncios pretendendo contratar engenheiros civis por baixos salários? Basta abrir qualquer classificado de empregos para encontrar várias ofertas de trabalho, para engenheiros formados, com vencimentos mensais dignos de estagiários. Algo similar também ocorre com outros profissionais, como os ligados à área de tecnologia da informação, cuja escassez de mão-de-obra também é frequentemente alardeada.
Se você conhece alguns engenheiros civis, deve saber que há vários deles trabalhando em áreas absolutamente diversas de sua formação acadêmica. Alguns por opção, claro, mas, sem dúvida, muitos por conta dos baixos vencimentos pagos à categoria. A falta de vagas nas universidades e a escassez de mão-de-obra são os sintomas, não as causas, do problema. Não parece, portanto, que haja um "apagão" de mão-de-obra especializada, mas, sim, muito pouco interesse em remunerar adequadamente o profissional.
Talvez o sufoco da Copa e da Olimpíada sirva, pelo menos, para mostrar que a valorização do profissional — não somente engenheiros, mas todos os demais — é muito mais importante, em longo prazo, do que obter margens de lucro exorbitantes apenas algumas poucas vezes. Ganhar menos, mas ganhar sempre, pode ser muito mais interessante, tanto para o bolso dos investidores quanto para o futuro do país.
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