"— O que lhe faz pensar que pode viver eternamente?
— Mas eu não penso assim...
— Mas age como se pudesse.
— Você vai querer me analisar agora?
— Não. Foi você quem me disse estar agindo sem pressa na vida e me perguntou o que eu achava. Não era para responder?
— Talvez eu não quisesse, realmente, ouvir a resposta...
— Não tivesse me perguntado, então.
— Mas você acha que é possível?
— O que?
— Viver pra sempre... Ou pelo menos viver mais tempo do que se vê por aí...
— Certamente que sim. Mas para isso, você vai ter de viver com uma certa urgência, com uma certa pressa, como se amanhã fosse o último dia de sua vida.
— É... Um dia a gente acerta!
— Não estou brincando. Se quiser realizar algo relevante, terá de correr porque o tempo joga contra você. E se seu corpo é mortal, talvez sua obra não o seja. Realize-a e talvez sua presença dure a eternidade.
— Do alto da minha idade e depois de tudo o que eu passei, o que eu ainda poderia fazer? Não saberia nem por onde começar...
— Não sei. Mas talvez, procurando a certeza de que se tudo terminasse, não se arrependeria por ter deixado de fazer alguma coisa.
— Deixe de besteiras... Já estão me chamando. Vou entrar.
— Só mais uma coisa...
— O que?
— Corra..."
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