sexta-feira, 5 de março de 2010

Aprender para mudar


O filósofo paulista Roland Corbisier (1914-2005), em um excerto de sua obra "Introdução à Filosofia", exorta seus leitores a refletir sobre a capacidade inerente ao ser humano de perguntar. Segundo ele, tal característica distingue a espécie humana das demais, já que os animais não perguntam porque sabem, por instinto, tudo o que é necessário para sobreviverem e perpetuarem a própria espécie. O homem, por sua vez, pergunta por perguntar, pela necessidade que tem do conhecimento para viver.

Mas se perguntamos é porque queremos saber e, consequentemente, aprender. O aprendizado é, portanto, algo tão intrínseco ao desenvolvimento humano que é praticamente impossível dissociá-los um do outro. E, para que tal observação fosse satisfatoriamente embasada, bastaria um breve lançar de olhos sobre como o homo sapiens, ao longo de mais de quarenta mil anos, vem aprendendo a se esquivar das limitações impostas pela mãe-natureza.

Na língua portuguesas, o verbo aprender, segundo as definições de Houaiss e Aurélio, refere-se à aquisição e retenção de conhecimentos ou habilidades por meio de estudo ou experiência. Está implícito, porém, que algo é alterado — talvez permanentemente — na percepção daquele que aprende. Tal como discorrido por duas professoras doutoras de psicologia da aprendizagem (Mendes, M. I. S. e Paula, F. V.), é na mudança que reside toda a essência do aprendizado. É fundamental ressalvar, no entanto, que o aprendizado, ou a mudança, não contém em si indicativos do que é "bom" ou "mau", ou seja, pode-se aprender algo prejudicial exatamente da mesma forma que algo positivo.

E tal como poder não é nada útil sem controle, também o aprendizado não serve para muita coisa sem a capacidade do indivíduo de se auto-analisar criticamente. Sem este "auto-questionamento" onipresente, não há como concluir, de forma autônoma e em tempo hábil, que o aprendizado fora equivocado. Porém, aprender os benefícios de se pensar criticamente não parece ser trivial, haja vista as ênfases do ensino formal que não mudam há muito, muito tempo...


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